Um drama anunciado!

Na Sagrada Escritura, Deus diz aos nossos pais para acolherem os estrangeiros, porque também outrora tinham vivido em terra estrangeira – no Egito, na Babilónia. Aquilo que é um acontecimento na história de Israel, repete-se hoje na nossa história. 

Pelos vistos a covid-19 veio trazer ao de cima o que há muito estava encoberto no mundo da imigração. Este caso de Odemira que está a acordar o país há muito era anunciado, mas parece que ninguém vê ou ninguém quer ver. Ainda por cima parece que acabaram com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – conhecido como SEF – e na mesma altura querem acabar com as fronteiras entre os países que pertencem à CPLP.

Agora percebemos que o SEF tem uma razão de ser não apenas para controlar o fluxo de imigrantes que entram em Portugal, ou seja, não apenas para impedir a imigração, mas principalmente para proteger a imigração das máfias. 

Mas é verdade… o SEF que tínhamos não funcionava – ou não o deixavam funcionar!

Era impossível quando líamos estatísticas que estariam a aumentar trezentos por cento o número de imigrantes vindos do Oriente – Paquistão, Índia, China, Nepal, etc.. – não nos perguntarmos onde estava toda essa gente.

Mas, se nós vemos, como é que as autoridades públicas não veem?

Nós vemos coisas simples. Um dono de um restaurante dizia-me que lhe tinham oferecido uma quantia avultada de dinheiro por cada nepalês que ficasse a trabalhar no seu restaurante. Ora, é sabido que há uma máquina por detrás da imigração que procura trabalho para legalizar estes imigrantes.

Numa loja de telemóveis falei com um rapaz que já estava na Europa há quatro anos e já tinha passado por dois países – Portugal era o terceiro. E ele dizia-me que tinha vindo para Portugal, porque era difícil de obter legalização nos outros países e a legislação portuguesa era mais flexível. Claro que o que ele quer é ficar legal em Portugal e depois voltar para países onde o ordenado mínimo é mais elevado do que esta miséria que temos em Portugal. 

Também me perguntei no ano passado como é que estava a abrir uma loja de recuerdos ou gifts – como lhes queiramos chamar – numa rua onde não passa sequer um turista. Então, mas os recuerdos não são para vender? Se ninguém passa nesta rua, como é que se mantém aberta a porta deste estabelecimento?

Este problema que estamos a ter, neste momento, é um problema anunciado!

Não sabemos como é que isto é possível? 

Então não gostamos de ir ao supermercado e comprar os legumes tão baratos? E nunca nos perguntámos como é que os produtores conseguem fazer preços tão baratos?

Na realidade – triste realidade – nós conseguimos ter coisas mais baratas para o nosso consumo, porque outros países estão a produzir com mão de obra barata. Por exemplo, nunca deixaríamos que nenhuma criança em Portugal deixasse de ir à escola para trabalhar. Por isso, para não vermos – porque penas que não se veem não se sentem – mandamos vir as roupas e os tecidos e os brinquedos de países onde as crianças não vão à escola para trabalharem, mas como não vemos nem sentimos problemas morais com esse tipo de consumo… Não são os nossos filhos.

O mesmo acontece com os imigrantes que estamos a receber para trabalharem nas nossas fábricas, nas nossas produções agrícolas, etc.. Eles trabalham e vivem em condições que seriam inadmissíveis para qualquer cidadão português, mas como não se veem, não há problema. Penas que não se veem não se sentem. 

Na Sagrada Escritura, Deus diz aos nossos pais para acolherem os estrangeiros, porque também outrora tinham vivido em terra estrangeira – no Egito, na Babilónia. Aquilo que é um acontecimento na história de Israel, repete-se hoje na nossa história. 

Porque havemos de acolher tantos imigrantes se não lhes garantimos a condigna sustentação da sua existência? Como havemos de os acolher sem lhes garantir a satisfação das suas necessidades materiais e espirituais mais básicas? 

Não basta dizer que somos um país que acolhe os diferentes, os estrangeiros, porque o que tenho ouvido de alguns governantes é do mais xenófobo que existe. Dizer que precisamos de imigrantes que venham trabalhar porque já não temos jovens suficientes é, no mínimo, dizer que os acolhemos para nosso bem e não para o bem deles.