E o doidinho awards vai para Portugal

A Academia Mundial dos Doidinho Awards 2021 tem a honra de atribuir o seu prestigiado e honroso prémio a Portugal. Não foi uma escolha fácil, havia muitos concorrentes altamente qualificados na doidice, mas o júri concluiu que o país mais maluco do mundo era realmente Portugal.

por João Cerqueira
​Escritor

Portanto, parabéns nação valente e imortal.

Passamos agora a explicar as razões da escolha.

No passado, Portugal repartiu o mundo com a Espanha, dominou oceanos e continentes, controlou o transporte de especiarias, produziu açúcar e explorou minas de ouro e diamantes. Ou seja, durante séculos foi um dos países que mais riqueza transaccionou.  No entanto, o povo continuou pobre e as elites que desse comércio beneficiaram dilapidaram a riqueza no fausto e no luxo, num novo-riquismo parolinho de que nunca se curaram, em vez de a investirem na modernização do país. Depois, os ingleses convenceram Portugal de que trocarem vinho por tecidos era um grande negócio e quando surgiu a Revolução Industrial ninguém se quis maçar com o barulho daqueles trambolhos complicados. E o resultado foi que após perder a colónia mais lucrativa – o Brasil –, Portugal nunca mais atinou.

Portugal atravessa o século XX sem ser capaz de viver em democracia, desenvolver a economia e alfabetizar a população – tendo até pedido encarecidamente a um ditador para o meter na linha. Mas eis que a esperança renasce em 1985. Novas especiarias, ouro e diamantes à vista sem sequer terem de navegar. Portugal entra para o clube dos países ricos europeus e começa a receber bilhões de euros – entre 2000 e 2020 recebe, em valores brutos, 95 biliões de Euros. Agora, sim, é que o país iria finalmente desenvolver-se e melhorar o nível de vida dos seus cidadãos.

Porém, não foi isso que aconteceu.

Portugal, apesar de ter recebido tanto bilião, de ter uma situação geográfica privilegiada – a porta de entrada do Atlântico – , um dos melhores climas da Europa, um rico património histórico e uma gastronomia opípara, de formar cidadãos que triunfam em todas as áreas – ciência, economia, artes, literatura, moda e desporto – no resto do mundo e se conseguem integrar em todas as culturas, foi ultrapassado por dez países que viviam na miséria: a República Checa, a Estónia, a Hungria, a Letónia, a Lituânia, a Polónia, a Eslováquia, a Eslovénia, Malta e Chipre[1]. Ora isto é como se numa corrida de bicicletas um grupo que mal sabia pedalar tivesse apanhado e ultrapassado um ciclista profissional. Como foi possível a Lituânia, um país pouco maior do que o Alentejo, situado nos confins da Europa, que fala uma língua que ninguém compreende e que ninguém quer visitar, se ter tornado mais rico do que Portugal?

 Pior ainda, Portugal poderá dentro de alguns anos ser o país mais pobre da UE.

Semelhante proeza de destruição de um país exigiu um método e uma vontade férrea para o aplicar: não saber aproveitar as suas características naturais, desperdiçar os seus recursos humanos, ter horror ao mérito, perseguir os empreendedores, estourar o dinheiro dos contribuintes e a arte de esfumar os biliões europeus.

E como ninguém se rala com isto, nem a alguém são pedidas responsabilidades, Portugal merece por mérito próprio o Doidinho Awards 2021.


[1] https://poligrafo.sapo.pt/fact-check/portugal-esta-a-ser-ultrapassado-no-pib-per-capita-pelos-10-paises-que-aderiram-a-ue-em-2004