Locus de controlo

Muitos dos empreendedores falham, por vezes várias vezes até conseguirem atingir a sua visão. Henry Ford foi à falência três vezes até ter sucesso

Por Pedro Ramos

Queridas Filhas,

Em Portugal quando se fala sobre economia e negócios a maioria das notícias focam-se no Estado e nas suas políticas. Vejo três causas para isso: 1) O Estado é dono de várias empresas de relevo em Portugal (Caixa Geral de Depósitos, TAP, RTP, CP, …); 2) Adicionando a Função Pública, o Estado controla uma percentagem muito elevada da atividade económica e do emprego nacional; 3) um número significativo das grandes empresas nacionais são monopólios regulados pelo Estado (EDP, Brisa, Telecom).

A maioria dos empresários em Portugal precisa de cultivar boas relações com os governantes e reguladores para ter sucesso comercial. Nos próximos meses muita atenção e esforço de lobby vai ser posto na alocação dos fundos da União Europeia. Este panorama pode criar nos nossos jovens a mentalidade de que o controlo do sucesso dos negócios depende do Governo e das suas políticas. Talvez até os jovens que tenham mais sucesso imediato estejam ligados ao governo e ao setor público. Acreditar que esse é o melhor caminho para o progresso e desenvolvimento das nossas carreiras e do país seria um erro. Como diz o ditado: o primeiro milho é dos pardais… A longo prazo o desenvolvimento de regiões e criação de riqueza estão ligados a empreendedores que se focam em servir clientes por todo o mundo, melhor que os seus competidores. Não se baseiam em acessos privilegiados aos governos ou reguladores. 

Isto lembra-me estudos psicológicos que mostram que a felicidade pessoal e eficácia profissional estão ligados a como cada pessoa acredita que ela própria, em vez de circunstâncias externas, tem controlo sobre o resultado dos seus projetos de vida. Vários estudos têm demonstrado uma correlação muito forte entre o locus interno de controlo (eu sou o principal responsável pelo que me acontece na vida) e o sucesso dos projetos profissionais e pessoais. A alternativa é o locus externo: o governo, o meu patrão, a minha família, circunstâncias da vida, sorte…

Para uma grande maioria da economia portuguesa o seu rumo e sucesso está nas mãos do estado e dos reguladores. Isto é uma visão muito pouco inspiradora da vida. Esta realidade advém de opções passadas que se vão arrastando dada a falta de projetos ambiciosos de liberalização da vida nacional. Advém ainda de pormos o locus de controlo no exterior: na União Europeia. Dadas as diferentes trajetórias de países membros, devia ser já claro que a UE não nos garante o progresso.

Felizmente começam a aparecer alguns raios de esperança: empreendedores que não aceitam esta realidade e sonham mais longe. Acreditam na sua visão, aproveitam os mercados internacionais e criam empresas internacionais de referência. Os casos recentes mais visíveis incluem: Farfetch, Outsystems e Feedzai. Eles abrem horizontes para os nossos empreendedores para sonharem mais alto, dependerem menos do mercado nacional e mais de si próprios e das suas capacidades. Mostram como adotar um locus interno de controlo.

Não quer isto dizer que o locus interno garante automaticamente o sucesso. Muitos dos empreendedores falham, por vezes várias vezes até conseguirem atingir a sua visão. Henry Ford foi à falência três vezes até ter sucesso. Thomas Edison disse: «Eu não falhei. Só encontrei 10.000 possibilidades que não funcionam».
Mas o locus interno, abre a porta a que cada tropeço resulte em aprendizagem e melhoria. Passo a passo as arestas são limadas e os objetivos ficam mais perto. Com persistência os objetivos são alcançados.

Depender de outros, tem menos impacto no ego e cria a ilusão de menor risco de carreira. Até é mais confortável financeiramente no curto prazo: ganha-se algum rendimento sem arriscar capital próprio. Mas no longo prazo, nada de consequência se faz dessa forma. Se a prosperidade e inovação se atingisse por decreto todos os países seriam desenvolvidos. O progresso ganha-se servindo os clientes por todo o mundo, melhor do que qualquer outro competidor, nacional ou internacional. Isso implica opções ambiciosas e uma devoção ao trabalho. Como país fizemos isso há 500 anos. Algumas empresas estão a fazer isso agora. Porque não vocês começarem nessa caminhada hoje também?