O fim da pandemia, o início da política

Agora os telejornais abrem com escândalos de nomeações do Governo, seja da antiga ministra, Ana Paula Vitorino, seja  do comissário político, Pedro Adão e Silva…

Durante ano e meio, cada um de nós procurou sobreviver o melhor que sabia e podia. Quando o contágio do vírus e o medo da morte se espalharam, os indivíduos, as famílias, as empresas e o Estado procuraram organizar-se para enfrentar o mal e sobreviver. Quando os telejornais abrem com a notícia de milhares de mortos pelo mundo, sabemos que temos de lutar pela vida. 

O Estado ordenou confinamentos, com obrigatoriedade de permanecer em casa, suprimindo direitos, liberdades e garantias. O Estado organizou-se, sobretudo na frente sanitária, para que os hospitais apenas cuidassem das vítimas da pandemia. O medo da morte tornou os cidadãos obedientes, colaborativos com os governos mesmo quando os governos foram lentos nas decisões, ou ultrapassaram os limites da lei.

A pandemia não foi uma guerra, mas relembrou (aos mais velhos) e mostrou (aos mais novos) o que é viver num quadro constitucional, físico, psicológico que suspende a Democracia e os direitos elementares.

Nesse quadro de confinamento e privação dos seus mais elementares direitos, foi sendo perguntado às pessoas, através de sondagens, se estavam satisfeitas com os seus políticos. O governo de António Costa, face à elevada taxa de satisfação mostrada nas sondagens, ia rejubilando sem parecer perceber que os portugueses, anestesiados com o medo de morrer e, pela dor da perda de familiares, não estavam preocupados com política.

À medida que a vacinação avança e o medo se evapora como areia da praia entre os dedos de uma criança numa tarde de verão, os velhos problemas de sempre voltam (sejam a corrupção endémica ou o alto preço dos combustíveis), mas desta vez atrelados aos novos problemas criados pela pandemia (economia de rastos, estado geral da saúde não-covid, fim das moratórias).

Os telejornais já não abrem com o número de infetados e mortos, mas abrem com escândalos de nomeações do governo, seja da antiga ministra e atual deputada Ana Paula Vitorino recebendo um salário principesco para presidir a uma entidade independente. Seja a nomeação do comissário político Pedro Adão e Silva para andar cinco anos a receber salário para preparar as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.

Os telejornais abrem com os fracassos diplomáticos de Augusto Santos Silva que mostram a débil relação com o Reino Unido ou até com Espanha, com os fracassos da TAP do ministro Pedro Nuno Santos. Ou o caso da Câmara de Lisboa de Fernando Medina que enviou dados de manifestantes anti-Putin residentes em Portugal ao governo russo. 

Durante a pandemia passaram-se coisas igualmente graves, mas compreensivelmente não eram notícia. Entretanto, o poder absoluto conferido pelas pessoas aos governos para combater a pandemia, terminou. Todavia, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente (Lord Acton) e tanto poder corrompeu-os definitiva e irremediavelmente.