Não sou epidemiologista, nem sequer médico, pelo que este texto deve ser lido com as necessárias reservas.
Não tendo a ciência, apenas tenho por mim a observação e a reflexão; e pode estar a escapar-me algum dado relevante que altere o quadro lógico, comprometendo gravemente as conclusões. E com a saúde não se brinca.
Feito este alerta, também não me sentiria bem se não escrevesse o que penso de um assunto muito sério, do qual dependem vidas humanas, mas que tem consequências muito para lá da área da saúde.
E que, por isso, não pode ser debatido só por especialistas desta área.
Quando começou a falar-se em pandemia e na necessidade de um confinamento, o argumento utilizado qual era?
O leitor lembra-se?
Era a necessidade de «achatar a curva», como diziam, ou seja, diminuir o ritmo de contágio para evitar o entupimento dos hospitais e a saturação dos cuidados intensivos.
O ‘achatamento da curva’, admitia-se, até poderia contribuir para prolongar a epidemia no tempo, mas era indispensável pelas tais razões hospitalares.
Esse ‘achatamento’ foi conseguido, e as situações de rutura nos hospitais não foram relevantes.
Entretanto veio o Verão, as coisas acalmaram, e até ao fim do ano vivemos uma quase normalidade.
Mas no início deste ano veio uma segunda vaga muito agressiva, com um número crescente de vítimas mortais, e o Governo – com o acordo de Belém – decretou um novo confinamento.
A situação melhorou claramente, voltámos então a desconfinar, mas os contágios recomeçaram a subir e agora entrámos num novo tempo: tão depressa a ordem é para descomprimir como é para andar para trás.
Estamos naquilo a que se pode chamar o ‘período do confina-desconfina’.
A razão apontada para confinar é o número excessivo de contágios.
Mas que mal há nisso?
Já não se coloca o problema do ‘achatamento da curva’, pois os hospitais estão longe de estar entupidos.
Também não se coloca o problema do número de mortos, pois há mesmo dias em que não se verificam óbitos.
Qual é, então, o argumento para andarmos neste pára-arranca, com gravíssimas consequências para a economia?
Não sendo as autoridades muito claras a este respeito, têm-se justificado as medidas restritivas com «a necessidade de acabar rapidamente com a pandemia», até por razões internacionais.
E aqui é que bate o ponto.
Estou sinceramente convencido de que, com esta estratégia de confina-desconfina, não vamos acabar rapidamente com a pandemia, pelo contrário, vamos prolongá-la, quiçá eternizá-la.
Imaginemos uma piscina em que a água começa a ficar ligeiramente verde.
O tratador deita um pouco de cloro, a água fica mais azul – mas no dia seguinte está outra vez esverdeada.
O tratador deita mais um pouco de cloro – e o fenómeno repete-se.
E assim se passam os dias, sem que a água fique azul.
Mas se, no primeiro dia, o tratador der um valente choque de cloro, o verde desaparece de todo – e daí em diante bastará adicionar regularmente um pouco de produto para ter a água sempre azul.
Com a covid passa-se o mesmo. Confinamos, a situação melhora, desconfinamos, a situação piora, e assim nunca mais nos vemos livres da doença.
Para resolver o problema de vez, há que provocar o tal choque.
É preciso desconfinar total e completamente
Haverá muitas infeções, mas como a maioria dos mais velhos já está vacinada, as consequências em princípio não serão graves: não haverá muitas hospitalizações nem mortes.
E assim atingiremos rapidamente a imunidade de grupo e poderemos voltar à vida normal.
Assim é que não vamos lá: com este confina-desconfina estamos a eternizar o problema.
Vai sempre havendo gente protegida pronta a ser infetada no próximo desconfinamento.
Há pessoas indignadas por verem grupos de jovens sem máscara.
Mas querem que os jovens, que sabem de antemão que não serão muito afetados pelo vírus, continuem metidos em casa (ainda por cima quando já estamos no Verão, que eles associam a liberdade e divertimento)?
Sejamos realistas.
É impossível continuar a aplicar medidas gravemente restritivas da liberdade.
Muitas pessoas estão no limite da resistência.
Milhares de empresários e comerciantes já não aguentam mais, estão à beira da falência – e outros tantos já faliram.
Há que desconfinar rapidamente.
Claro que as pessoas mais velhas, as pessoas mais frágeis, as pessoas doentes, mesmo vacinadas, terão de tomar algumas precauções.
Mas isso já elas sabem e fazem: não precisam que ninguém as ensine ou obrigue.
Quanto às outras, passarão a andar à vontade – e a economia poderá retomar o seu curso.
Aliás, olhamos lá para fora e o que vemos?
Vemos os estádios vazios, como cá, os espetáculos cancelados, as pessoas proibidas de circular ao fim de semana?
Não: vemos os estádios de futebol cheios de gente sem máscara.
Vemos as estradas de França apinhadas de gente sem máscara a ver passar o Tour.
E esses países têm números terríveis?
Não têm.
Então, estamos à espera de quê?
Acabo como comecei. O argumento do ‘achatamento da curva’ desapareceu.
O argumento do ‘número elevado de mortes’ desapareceu.
O argumento de que queremos matar a doença de vez está mal colocado, como vimos, pois só estamos a eternizá-la.
Assim, a partir de agora, as medidas restritivas não servirão para acabar com a pandemia – só contribuirão para matar a economia.
Desconfine-se rapidamente… e em força!
E mesmo assim já vamos tarde.
P.S. – Depois de Joe Berardo, foi detido Luís Filipe Vieira. E começou o julgamento de Ricardo Salgado. Todas estas pessoas têm um fio a ligá-las e os seus processos reportam à mesma época. Já não é necessário citar o nome: nunca um primeiro-ministro em Portugal tinha sido responsável pela destruição de tanto dinheiro. Mete dó!