Alemanha acusa médico sírio de torturar dissidentes do regime

Mousa, que exerceu medicina durante anos na Alemanha, terá queimado a genitália de dissidentes na Síria.

A Justiça alemã continua a perseguir os algozes do regime de Bashar Al-Assad que se esconderam na Alemanha, quando parecia que este estava prestes a cair, misturando-se entre as centenas de milhares das suas vítimas que se refugiavam no país. O caso mais recente é o de Alla Mousa, um médico sírio acusado de crimes contra a humanidade, por torturar 18 pessoas, matando uma delas, em hospitais militares em Damasco e Homs. Depois seguiu para a Alemanha em 2015, onde trabalha como cirurgião ortopedista, em Kassel e na Bavária, segundo a imprensa local, antes de ser detido o ano passado.

O rol de atrocidades atribuídas a Mousa é de gelar o sangue. Quando a Primavera Árabe estalou, em 2011, cada vez mais gente ferida, detida por protestar contra o regime de Assad ia chegando às mão de Mousa. Um deles, adolescente, viu a sua genitália ser encharcada em álcool e incendiada pelo médico sírio, acusa a Justiça alemã. Outros terão sido pendurados pelas mãos no teto, enquanto Mousa os espancava, pontapeava e chicoteava com tubos de plástico, chegando a incendiar as mãos de prisioneiros.

Além disso, o médico terá chegado a operar um prisioneiro a uma hérnia sem anestesia, num abuso que faz lembrar as atrocidades de Josef Mengele. Também terá pontapeado uma das suas vítimas na cabeça, tendo esta sofrido um episódio de epilepsia, e morrido uns dias depois, após tomar um medicamento dado por Mousa – a causa da morte ficou por estabelecer, notaram os procuradores alemães, mas é daí que vem a acusação de homicídio.

A acusação contra Mousa surge no rescaldo do julgamento de Eyad Al-Gharib, um antigo agente das secretas sírias, condenado a quatro anos e meio de prisão em fevereiro. Foi uma decisão saudada por ativistas como precedente fundamental para responsabilizar o regime, afirmando o princípio da jurisdição universal em casos de crimes contra a humanidade, invocado por procuradores alemães.

“A violência sexual está a ser usada como uma arma, sistemática e intencionalmente, contra a oposição na Síria”, afirmou o secretário-geral do Centro Europeu para Direitos Constitucionais e Humanos, Wolfgang Kaleck, citado pelo Guardian. O julgamento de Mousa, “envia um sinal importante para os muitos sobreviventes que ficaram em silêncio até agora”.