A nova vida das discotecas à volta da Europa

Enquanto Portugal espera pela reabertura das suas discotecas, em países como Inglaterra ou Alemanha já se voltou a dançar.

Onde estava quando, 17 meses depois, as discotecas voltaram a ser abertas? 

Um dos setores mais afetados pela pandemia provocada pela covid-19 foi o da noite, com as regras de distanciamento social instaladas, era impensável imaginar um espaço fechado onde inúmeros corpos suados dançam juntos continuar em funcionamento. 

Por isso, todas as discotecas a nível nacional foram encerradas ou passaram a operar de forma diferente, como restaurante ou bar, mas, agora, com a taxa de vacinação a crescer cada vez mais e a ânsia para regressar à normalidade a contagiar cada vez mais pessoas, é esperado que o Infarmed levante as restrições aos espaços noturnos portugueses.

Mas, enquanto em Portugal aguardamos ansiosamente para voltar a comungar uma pista de dança, no resto da Europa a situação é diferente. 

Foi com algum espanto (e até talvez alguma inveja) que as imagens da reabertura das discotecas inglesas foram recebidas por todo o mundo. Em Inglaterra, onde, no dia 19 de julho, também conhecido como “Dia da Liberdade”, foram levantadas inúmeras restrições, como o limite de capacidade e o uso de máscara a ser apenas “aconselhado”, esta semana, abandonou inclusive a obrigatoriedade de mostrar o certificado de vacinação à porta das danceterias. 

Segundo o Governo britânico, este documento é “supérfluo” perante o sucesso da campanha de vacinação contra a covid-19, portanto, deixará de ser obrigatório mostrar o certificado para entrar em discotecas, estádios de futebol ou eventos que reúnam grandes quantidades de pessoas, como festivais de música.

“Nunca gostei da ideia de pedir às pessoas para mostrarem os seus documentos para poderem realizar atividades diárias”, disse o ministro da Saúde, Sajid Javid. “O passaporte era uma opção, mas fico feliz por dizer que não vamos manter o projeto de passaporte vacinal”, acrescentou. 

Esta medida não será implementada em todos os países do Reino Unido, por exemplo, na Escócia, que também teve direito a celebrar o “dia da liberdade”, no dia 9 de agosto, reabrindo as discotecas sem a obrigatoriedade de utilizar a máscara, vai ser necessário, a partir do dia 1 de outubro, mostrar o certificado de vacinação para autorizar o acesso a estes espaços noturnos e outros eventos.

Uma reabertura com “avanços e recuos” A Inglaterra não foi pioneira na arte de libertar as discotecas, em Espanha discotecas, bares e clubes noturnos reabriram no dia 9 de julho, um processo que tem sido de avanços e recuos.

A Catalunha, que foi a primeira região a abrir estes locais, permitindo que as discotecas estivessem abertas até às 3h da manhã com 50% da sua capacidade total, foi obrigada a recuar nesta medida devido ao preocupante aumento de novas infeções na população mais jovem.

Em algumas regiões do país, os espaços noturnos continuam encerrados, como é o caso de Murcia, nas Ilhas Baleares, no País Basco, em algumas partes da Cantábria, Galiza (encerrado apenas nas áreas de extremo ou elevado risco) e Castela e Leão (apenas o espaço interior, a zona ao ar livre pode funcionar no horário normal), mas no resto de Espanha, apesar de continuar a ser necessário o uso de máscara e continuarem a existir restrições de horário, entre as 1h e as 3h30 da manhã, as discotecas podem receber clientes e funcionar dentro deste novo contexto.

França, que também reabriu estes estabelecimentos noturnos no dia 9 de julho, com 75% da lotação máxima, decretou que, para entrar nestes espaços, apesar de não ser necessário utilizar máscara (ainda que seja recomendada a sua utilização), é necessário apresentar um certificado de vacinação ou um comprovativo de teste negativo.

Esta foi uma medida bem recebida pela população que esteve 15 meses impossibilidade de mostrar os seus melhores movimentos nas pistas de dança, no entanto, as autoridades francesas denunciaram que bares e discotecas foram responsáveis por mais de uma centena de focos de covid-19. 

Em julho, foi reportado que, em Toulouse, pelo menos 60 bares e duas discotecas foram identificados como focos de covid-19, uma na região de Vosges, junto a Estrasburgo, e outra em Doubs, junto à fronteira com a Suíça. Este aumento de infeções levou diferentes departamentos em França a voltarem a impor a utilização de máscara no exterior, exceto nas praias.

Um caso semelhante aconteceu nos Países Baixos, foi permitida a reabertura de discotecas em junho, no entanto, pouco tempo depois, foi registado um novo pico de casos no país, incluindo um foco de cerca de mil infeções ligadas a um evento de música de dança, o que levou a que estes espaços fossem novamente encerrados, uma restrição que deve durar até ao dia 1 de novembro, apesar de, em setembro, as autoridades terem anunciado que iriam rever as medidas de restrição.

Nova batida alemã Lentamente, por toda a Europa, o pulsante som da música eletrónica vai voltando a conquistar as cidades. No início de setembro, foi a vez dos clubes de Berlim, famosos pela sua cultura de música eletrónica, de reabrirem as portas dos seus espaços para ressuscitarem a vida noturna da capital alemã.

Estes estabelecimentos vão funcionar de uma maneira semelhante à que está prevista para Portugal, em que será necessário mostrar à entrada de discotecas ou clubes de dança uma prova que estão a recuperar da infeção depois de a ter contraído nos últimos seis meses, de que não possuem covid-19 ou o certificado de vacinação, todos os não-vacinados estão excluídos destes espaços. 

Esta medida foi oficializada pelas berlinenses depois do club de techno Wilde Renate ter processado a cidade devido à lei que proibia a hipótese de se dançar em espaços fechados e está a chegar a outras cidades alemães como Hamburgo.

À semelhança de Portugal, o setor da noite alemão, que para além da pandemia já estava a ser afetado pelas consequências da gentrificação, que obriga constantemente estabelecimentos noturnos a serem encerrados, foram protegidos pelo Parlamento alemão que, em maio, reclassificou as discotecas e locais de eventos ao vivo como instituições culturais, concedendo assim as mesmas proteções legais que os museus e as casas de concertos.