Montepio. Vítor Melícias sai de cena

Depois de ter estado quase 40 anos ligado à Mutualista, Vítor Melícias saiu das listas. Ao Nascer do SOL não descarta a hipótese de integrar a Assembleia de Representantes ou a mesa da AG.

Quase 40 anos depois, Vítor Melícias não vai integrar nenhum cargo de liderança na Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) que vai a votos a 17 de dezembro. Entrou na Mutualista em 1983, numa fase de estabilização depois de a instituição ter estado à beira de entrar na vaga de nacionalizações da banca no período pós-revolução e continua a estar em funções até ao dia de hoje. Mas pela primeira vez não entra nas listas nem para a administração, nem para o conselho fiscal – nomes que já estão a ser avaliados pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF).

«Não posso ficar eternamente no Montepio. O facto de não me candidatar representa simplesmente a vontade de que haja renovação, que se assista a um espírito de instituição. Não posso ficar em funções eternamente. Não tem sentido nenhum. O não me candidatar é um ato positivo de colaboração com a instituição, de apoio à renovação, à vida eterna da instituição», diz ao Nascer do SOL.

O padre franciscano lembra ainda que foi um dos principais impulsionadores da limitação de mandatos e, em relação à remuneração que ainda continua a auferir, diz que apenas recebe por senhas de presença – algumas centenas de euros – uma vez que as outras funções que desenvolve atualmente para a Mutualista não são remuneradas. «Há 18 anos que não tenho qualquer remuneração do Montepio. Tenho uma reforma e tudo o que recebo vai para os franciscanos».

Numa entrevista ao i já tinha referido que recebia três tipos de pensões: uma da Segurança Social, outra do Montepio – que descontou como associado – e uma outra que é a chamada pensão estatutária do Montepio, que se destina àqueles que estiveram mais de cinco anos em exercício. «Tudo junto deve dar, no máximo dos máximos, 3.900, 4.000 euros. E dessa conta, automaticamente, sem passar pela minha mão, vão 3 mil euros para os frades. Ficam para aí 900 para ir gerindo a minha vida, para ajudar pobres», disse, na altura, ao i.

Uma garantia dada novamente ao Nascer do SOL ao referir que os franciscanos vivem «com a maior simplicidade, sem luxos».

Ainda assim, Melícias não descarta a possibilidade de avançar com o seu nome para a mesa da Assembleia-Geral ou para a Assembleia de Representantes. «Ainda não há lista para estes cargos. Se me convencerem que tenho de ir porque seria favorável provavelmente não posso dizer que não». E deixa uma garantia: «Desejo muito não ir, mas o meu sentido de solidariedade com a instituição pode-me ‘obrigar’ a isso».

E, apesar de não estar presente em nenhuma das listas, reconhece que o seu nome dá credibilidade. E refere que a sua ausência não significa que não continue a apoiar o projeto. «É preciso dar tranquilidade. É uma instituição com 200 anos que tem crescido, é forte, é organizada, contando com com 600 e mil tal associados». Admite, no entanto, que, nos últimos anos e principalmente com a pandemia os números têm vindo a oscilar. «Entram uns e saem outros. Não é pouco significativo, nem é motivo de preocupação».

 

Contagem decrescente

A par de Virgílio Lima – que apresenta a lista de continuidade e conta com nomes como Idália Serrão, João Carvalho das Neves, Rui Heitor e Fernando Amaro, Alípio Dia e Luís Patrão – há mais três listas concorrentes.

Uma delas é a chamada ‘Lista dos Quadros’, liderada por Pedro Alves, que assumiu a candidatura depois de João Vicente Ribeiro ter pedido para se desvincular «por razões de ordem pessoal» – composta por Maria Eduarda Osório, Nuno Paramés e Pedro Líbano Monteiro.

Também Eugénio Rosa, juntamente com Ana Drago, António Couto Lopes, Catarina Homem, Luís Costa e Tiago Mota Saraiva, concorrem à liderança da Mutualista, enquanto a outra lista, apoiada por Ribeiro Mendes – que concorreu nas últimas eleições contra Tomás Correia – conta com Pedro Corte Real (presidente), Miguel Coelho, Mário Valadas, Nazaré Ribeiro, Nuno Rolo, Marcelo Gama e Ana Nogueira.

O Nascer do SOL sabe que, recorrendo às práticas pré-eleitorais de Tomás Correia, Virgílio Lima tem vindo a percorrer o país de lés a lés visitando balcões do Banco Montepio. Esta operação de ‘charme’ teve início em julho é só fez uma pausa durante o mês de agosto. Recentemente, foram visitados os balcões de Braga, Porto e Aveiro. O nosso jornal apurou que essas visitas foram sendo feitas com o pretexto de ser o presidente da Associação Mutualista e que tinham como objetivo sondar os trabalhadores para saber como está a relação com os clientes e associados.

Apesar dessa ronda, a comissão Executiva emitiu uma nota para os trabalhadores sobre riscos de conflitos de interesses decorrentes das eleições: «Está muito próximo o processo eleitoral para os órgãos associativos do Montepio Geral Associação Mutualista, um acontecimento importante da vida daquela Instituição. A Caixa Económica Montepio Geral (’Banco Montepio’) mantém uma postura de neutralidade e absoluta independência relativamente a esse processo, na convicção de que esta é a melhor forma de contribuir para a defesa dos interesses do MGAM e dos respetivos associados», diz o documento.

E relembra as regras aos trabalhadores: «Devem abster-se, no exercício da sua atividade profissional, de assumir posições sobre quaisquer candidaturas que estejam em escrutínio, independentemente dos meios utilizados no contacto com clientes e associados do MGAM; Não poderão ser realizadas quaisquer iniciativas de campanha no âmbito do processo eleitoral do MGAM nas instalações do Banco Montepio; Devem informar de imediato o conselho de administração quando integrem uma lista de candidatura; quaisquer intervenções públicas ou comunicações relativamente ao processo eleitoral, que sejam admissíveis dentro do quadro normativo em vigor, só poderão ser efetuadas a título pessoal, do que deverá ser dada devida nota, não podendo representar ou vincular o Banco Montepio», acrescentando que «a violação das obrigações referidas é suscetível de configurar infração disciplinar, estando assim proibidos os seguintes comportamentos: o uso de instalações e meios do Banco Montepio, nomeadamente do correio eletrónico, telefone, acesso à internet e tecnologias semelhantes para troca ou divulgação de mensagens de apoio a um candidato ou a uma lista; uso de meios que o Banco Montepio disponibilizou para o exercício das suas funções, para frequentar ações de campanha, para recolha de votos ou para promover uma lista ou um candidato (ex.: viaturas e telemóveis)».

Também a comissão executiva do Banco Montepio iniciou um programa de descentralização das suas reuniões, começando por Guimarães, onde esteve na passada quarta-feira. Recorde-se que a atual gestão do Banco Montepio tem o seu mandato a terminar a 31 de dezembro próximo, o que significa que, a escolha da nova equipa de gestão para o banco será uma das primeiras tarefas da nova administração da Associação Mutualista.

 

Contas de 2020 aprovadas

Ainda esta quinta-feira, os resultados financeiros consolidados do grupo Montepio Geral, no ano de 2020, foram aprovados com 97,28% de votos a favor, durante a assembleia geral ordinária. «Num ano marcado pelo forte impacto negativo que a pandemia provocou em todo o setor financeiro nacional, europeu e mundial, a área financeira do grupo Montepio não foi exceção, tendo registado um conjunto de eventos extraordinários que penalizaram os resultados operacionais do Banco Montepio Geral (-86 milhões). Sem esta realidade absolutamente excecional, as contas consolidadas seriam de 65 milhões positivos», revelou, em comunicado.

De acordo com Virgílio Lima, as contas foram aprovadas «depois de os associados terem sido amplamente informados sobre o desempenho muito positivo registado já em 2021, com crescimento do número de associados, da margem financeira, dos resultados e dos indicadores de eficiência», acrescentando que «a área não financeira do grupo vive um ciclo positivo e ascendente e a área financeira assegura desempenhos que confirmam uma franca recuperação». E deixou uma garantia: «Ninguém tem orgulho de resultados negativos, mas enche-nos de orgulho o caminho de recuperação que o grupo Montepio regista já nesta data e o desempenho de todos os nossos colaboradores nos anos de 2020 e 2021, num quadro de restruturação ao nível do grupo, em termos de simplificação no número de entidades instrumentais, de ajustamento do número de balcões e das equipas de trabalho, numa base sempre voluntária. Por tudo isto, encaramos o presente e o futuro com determinação, serenidade e confiança».

Números que não convencem as listas opositoras. O grupo de quadros diz que as contas «revelam incapacidade para valorizar a Instituição», considerando que é «possível inverter o rumo de desvalorização contínua dos ativos». Também a lista encabeçada por Eugénio Rosa critica os prejuízos, considerando que é «altura para tratar de implementar as boas contas e as boas práticas que os associados merecem e que há tanto tempo aguardam».