“CDS transformou-se noutra coisa”. Adolfo Mesquita Nunes está de saída do partido onde esteve 25 anos

O ex-dirigente diz que o “CDS das liberdades deixou de existir”, explicando que o afastamento se deve ao novo rumo que o partido está a tomar, diferente daquele em que se filiou e do modelo que serviu enquanto dirigente. Mesquita Nunes ainda afirma que o Conselho Nacional de ontem provou que o “CDS desistiu, enquanto partido, de…

“CDS transformou-se noutra coisa”. Adolfo Mesquita Nunes está de saída do partido onde esteve 25 anos

O ex-dirigente do CDS-PP Adolfo Mesquita Nunes anunciou, este sábado, a sua saída do partido, considerando esta decisão o “mais difícil ato político” que já fez na sua vida.

“O partido em que me filiei, o CDS das liberdades, deixou de existir”, começa por apontar no início da publicação que partilhou na rede social Facebook, ao dizer que não está de saída do partido pelas “profundas discordâncias com o rumo seguido pela direcção eleita”, mas pela “convicção de que o CDS é hoje, estruturalmente, um partido distinto daquele em que me filiei, um partido que quer afastar-se do modelo de partido que servi como dirigente”.

“Quando, em 2011, me sentei na bancada parlamentar do CDS, senti orgulho e sentido de dever. Ali estava, ao meu lado, do mesmo lado, um espelho da direita das liberdades que o CDS se propôs representar no seu Programa”, sublinha Adolfo Mesquita Nunes, frisando que os diferentes pensamentos eram a força do partido. “Espelhávamos a diversidade do eleitorado de direita, as contemporâneas formas de entender esses valores e de lutar por um país de oportunidades, de liberdades, de justiça social”, apontou.

“Não nos passou pela cabeça eliminar as nossas diferenças, porque delas vinha a nossa força. Não nos passou pela cabeça relativizar o que tínhamos em comum, porque daí vinha a nossa convicção. Não nos passou pela cabeça desqualificar a nossa história, porque nenhum de nós se sentia intérprete único do partido”, afirma o agora ex-militante, assinalando que “os tempos são outros, agora”.

Segundo Mesquita Nunes, a diversidade “é vista como fraqueza, perda de identidade”, questionando “como se só houvesse uma única e legítima forma de ser do CDS”.

O ex-dirigente diz que a “contemporaneidade é vista como uma ameaça” e a “liberdade é vista como algo de relativo”. “Nunca me imaginei em discussões sobre se alguém do CDS pode não gostar de touradas, se pode ser vegetariano, se pode divorciar-se, se pode amar quem quiser, se pode não ser crente. Mas essas discussões vieram para ficar e dão bem conta das novas prioridades do partido”, salienta.

Adolfo Mesquita Nunes afirma que “esta visão do partido não vem de agora”. “Sempre houve quem a quisesse implantar, sempre houve quem lidasse muito mal com a contemporaneidade e com a liberdade”, aponta, ao explicar que atualmente essa é a “tendência maioritária, e dela resulta uma estratégia clara, com respaldo em sucessivos Conselhos Nacionais, de afunilamento e reposicionamento do partido”.

“O Conselho Nacional de ontem, em que o CDS desistiu, enquanto partido, de discutir e decidir em Congresso com que liderança e com que estratégia deve enfrentar as próximas eleições legislativas é apenas a confirmação de que o partido deixou de existir, com pensamento e estratégia autónoma, aceitando com entusiasmo o caminho para a nossa irrelevância, dependendo da bondade e caridade de terceiros”, destaca o ex-dirigente.

“Como é possível que o CDS aceite que uma direcção retire aos militantes o direito de escolher o seu líder e a sua estratégia; e que o faça num Conselho Nacional ilegalmente convocado e ignorando as decisões do órgão jurisdicional do partido; e ainda para mais para manter uma direcção cujo mandato termina em Janeiro?” questiona Mesquita Nunes, afirmando que este não foi o partido em que se filiou.

Para o ex-militante, o “CDS transformou-se noutra coisa” com a qual não se identifica, tendo evitado a desfiliação “até ao último dia”. “Vejo hoje que este se tornou irreversível”, frisa.

Já nas notas finais, Adolfo Mesquita diz que deixa o CDS “sem uma gota de arrependimento” de tudo que fez durante 25 anos enquanto militante. “Foi uma honra ter servido e representado o CDS e é com orgulho que olho para o que, com erros e acertos, fomos capazes de fazer em nome da direita das liberdades. Nunca fiz esse caminho sozinho”, nota.