Após anos de manifestações massivas no Chile, contra o status quo neoliberal deixado pelo general Augusto Pinochet, que culminariam no derrube do Presidente Sebastián Piñera, abalado pelo escândalo dos Pandora Papers, os chilenos foram às urnas este domingo, para escolher o próximo Presidente.
Têm sete opções, mas os dois favoritos na corrida não podiam ser mais diferentes. De um lado está o rosto dos movimentos de protesto, Gabriel Boric, um antigo líder estudantil de 35 anos, do outro José Antonio Kast, um ex-deputado de 55 anos, ferozmente conservador católico, admirador confesso de Pinochet, que está há anos nas franjas da extrema-direita, sendo apontado como uma espécie de Jair Bolsonaro chileno.
É improvável que qualquer um dos dois consiga os 50% dos votos necessários para vencer as presidenciais na primeira volta, mas tudo indica que estarão frente a frente na segunda, em dezembro. As sondagens mais recentes da Cadem mostram Kast com uns 25% das intenções de voto, e Boric com 19%. São seguidos de longe por Yanna Provoste, uma candidata socialista pouco conhecida, com somente 9% das intenções de voto, bem como Sebastián Sichel, de centro-direita, com 8%.
Após anos de austeridade e contestação, agora com os estragos económicos causados pela pandemia de covid-19, levando o centro político a esvaziar-se, os dois candidatos favoritos terão de disputar os restos.
“Estamos a lutar para criar um Estado que garanta direitos e dignidade”, assegurou Boric, um progressista que prometeu finalmente montar um Estado Social no Chile, perante a multidão que se reuniu para o seu último comício, em Casablanca.
Já Kast quer galvanizar os insatisfeitos com os protestos de 2019, prometendo mão dura, numa plataforma de lei e ordem. “O Chile precisa de paz, ordem, e de voltar a progredir com liberdade”, declarou, num comício em Santiago, virado para aqueles que recordam com saudade as décadas de crescimento económico sob batuta neoliberal.
Já Boric quer mostrar que os ganhos desses tempos não foram parar aos bolsos de todos. “O ‘milagre chileno’ foi uma coisa para o mundo lá fora, não para nós”, explicou ao Guardian. “Mas quando falas com pessoas nos bairros pobres, eles olham à volta e perguntam-te onde é que esse progresso está de facto”.