A política sueca, que enfrenta um processo de contínua fragmentação partidária, tornando formar uma coligação de Governo estável quase impossível, virou uma espécie de telenovela, em que basta perder um episódio para já não se estar a par da trama. Numa questão de dias, Magdalena Andersson, do Partido Social-Democrata da Suécia (SAP, na sigla sueca), de centro-esquerda, virou primeira-ministra da Suécia, aos 54 anos, esteve menos de oito horas no posto antes de se demitir, acabando reeleita pelo Parlamento cinco dias depois. «Isto talvez não dê a melhor imagem à política sueca», admitiu publicamente a própria Andersson, quando se demitiu.
Na origem de todo este caos estão exatamente os mesmos problemas que enfrentara o seu antecessor, Stefan Löfven, de quem Andersson foi ministra das Finanças, e cuja demissão surpreendeu o seu país no final de agosto. O crescimento eleitoral da extrema-direita – os Democratas Suecos, agora o terceiro maior partido, que, apesar do nome, tem raízes no movimento neonazi – tornou-a indispensável a qualquer maioria à direita, uma perspetiva que começa a ser acalentada pelos partidos da direita tradicional.
Enquanto os sociais-democratas se vêm obrigados a negociar com o Partido da Esquerda, ou seja, o antigo partido comunista, com um pequeno partido centrista e com os Verdes. É um estilhaçar do espetro político semelhante ao vemos um pouco por toda a Europa, da Alemanha a Espanha, de certa forma até em Portugal, mas na Suécia a situação chegou ao ponto que Andersson planeava tentar governar com um orçamento de Estado aprovado pela oposição, incluindo com os Democratas Suecos. Daí que os verdes, que se tornaram um apoio crucial para o SAP desde 2014, tenham retirado da coligação de Governo, levando à rápida queda da primeira-ministra sueca.
Claro que o facto do partido de Andersson ser apontado como o grande responsável pela relaxada resposta sueca à covid-19 – recusando impor restrições mais rígidas durante os piores momentos da pandemia, baseando-se somente em recomendações e destoando em relação ao resto da Europa – não ajuda nada.
Entretanto, o Executivo de Löfven de certa forma deu meia volta, admitindo alguns erros, endurecendo a sua resposta e apostando nos certificados de vacinação. Contudo, além de Andersson ter feito parte de um Governo a que é imputada culpa por parte das mais de 15 mil morte por covid-19 na Suécia, ainda terá de lidar com uma onda de tiroteios em confrontos entre gangues e traficantes de droga, que aterrorizam grandes cidades como Estocolmo, Goteborg e Malmö. Este problema sempre foi visto como um dos motivos pelo qual a retórica de ‘lei e ordem’ da extrema-direita sueca desperta tanto interesse, mas dominou a discussão pública no país desde o mês passado, com o homicídio a tiro de Einar, um dos mais populares rappers suecos, com apenas 19 anos.
Se esses desafios provavelmente seriam transversais a qualquer líder do SAP, na imprensa sueca vão surgindo críticas a Andersson que é muito difícil imaginar serem feitas a um homem. Falta a Andersson a principal qualificação para suceder a Löfven, escreveu a jornalista Lena Mellin no tablóide Aftonbladet, ou seja, «parecer feliz». Ironicamente, o antecessor da primeira-ministra é notoriamente carrancudo, apresentando-se sempre de cara trancada, algo muitas vezes apontando até como parte do seu carisma rude, de antigo soldador fabril tornado líder sindical.
Trata-se de uma crítica recorrente contra mulheres na política. Certamente contribuindo para que, até à chegada de Andersson