Alemanha. Scholz tenta preencher os sapatos de Merkel

Por mais que a “coligação semáforo” se quisesse focar na transição energética e digitalização, por agora terá de enfrentar a pandemia, com Scholz a prometer mão dura com os não vacinados.

Após meses de negociações, Olaf Schol, de 63 anos, finalmente tomou posse como chanceler alemão, esta quarta-feira. Substituiu Angela Merkel, que, ao longo de quatro mandatos à frente da maior economia europeia, “deixou a sua marca” no país, elogiou o novo chanceler, enquanto tomava posse no Parlamento alemão, ou Bundestag. “Será um novo começo para o nosso país”, prometeu Scholz, que chegou ao poder graças a uma coligação que juntou o seu partido, o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD, na sigla alemã), os Verdes e o Partido Democrático Liberal (FDP).

No entanto, não é esperado que o novo Governo de coligação – o chamado semáforo, com o vermelho do SPD, o verde e o amarelo dos liberais – leve a cabo uma rutura radical em relação ao Executivo anterior. Scholz, rosto mais destacado da ala centrista do SPD, apresentou-se às eleições enquanto ainda era ministro das Finanças de Merkel,  e sempre se tentou mostrar como o verdadeiro candidato de continuidade, mais ainda que o próprio partido da chanceler, a União Democrata-Cristã (CDU). 

Ainda assim, com uma coligação com interesses tão dispares, estão todos na expetativa. “O começo do vosso governo é acompanhado com curiosidade e esperança por muitos”, lembrou o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier.

Scholz foi dando alguns sinais quanto ao futuro. Por mais que as grandes prioridades da sua coligação sejam a transição energética e a digitalização, por agora o novo Executivo terá que se dedicar a enfrentar o surto de covid-19 na Alemanha, à medida que se aproxima a época festiva, temendo-se uma potencial vaga da Omicron. 

Como tal, Scholz estabeleceu uma meta ambiciosa para as suas primeiras semanas no poder, prometendo administrar mais 30 milhões de doses de vacina contra a covid-19 até ao natal, assumindo que vai ter mão dura com os não vacinados.

Menos de 70% da população alemã elegível está completamente imunizada, segundo o Instituto Robert Koch, bem abaixo do objetivo de chegar aos 80%, ou da taxa de quase 90% conseguida por Portugal. Em resposta, está a ser preparado um projeto de lei para tornar a vacinação obrigatória na Alemanha, que deverá ser apresentado entre fevereiro e março. O novo chanceler declarou que não vai exigir disciplina de voto nem ao seu partido, nem aos seus aliados de coligação, talvez por a proposta não ser unânime entre eles, mas irá votar a favor. 

A questão é que a pasta da Saúde fora apontada pela imprensa alemã como a grande batata quente nas negociações entre sociais-democratas, verdes e liberais. Enquanto cada um tentava agarrar os ministérios que podia, ninguém queria ficar com a Saúde, consciente que ficariam com as culpas dos fracassos ou das medidas mais impopulares. A pasta acabou por ficar nas mãos do epidemiologista Karl Lauterbach, do SPD, um conhecido defensor de medidas duras contra a covid-19. 

Além disso, haverá um afastamento das políticas de austeridade de Merkel, com a subida do salário mínimo para 12 euros à hora, esperando-se a legalização da marijuana – é algo com que todos os parceiros de coligação concordam – e uma aposta forte no ambiente. A última central elétrica a carvão fechará oito anos mais cedo do que o previsto, mas só em 2030. Por essa altura espera-se que 80% da energia venha das renováveis, quando a anterior meta era apenas 65%, bem como um enorme crescimento dos veículos elétricos nas estradas alemãs.