Madalena Aroso, a vidente de Matosinhos que Jorge Nuno Pinto da Costa consultou ao longo de anos em busca de previsões dos resultados de jogos disputados pela equipa do FC Porto, foi colocada, há cerca de cinco meses, como funcionária do clube, causando algum mal-estar na estrutura interna – soube o i de uma fonte conhecedora dos meandros e do funcionamento da agremiação desportiva nortenha.
A integração de Madalena Aroso deu-se após uma fuga de informação para a comunicação social, em julho passado, relativa à Operação Cartão Vermelho, visando, entre outras figuras relacionadas com o Benfica, o próprio presidente do clube, Luís Filipe Vieira, investigado judicialmente por suspeitas da prática dos crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Essa fuga anunciava que a investigação, levada a cabo pelo Ministério Público e a Autoridade Tributária, se estendia também a Pinto da Costa e a algumas figuras do seu círculo, como o filho Alexandre e o empresário José Pedro Pinho (ambos intermediários na contratação de jogadores) – facto que viria a confirmar-se mais tarde com a revelação de que, da Operação Cartão Vermelho, se extraíra certidão para investigar movimentações suspeitas de dinheiros na esfera do presidente do FC Porto.
Até esse momento, Madalena Aroso, que se dedica também à compra e venda de imobiliário, sendo tratada por “doutora” pelos dirigentes do FC Porto, recebia Pinto da Costa e outros elementos da administração do clube numa loja mesmo em frente ao Estádio do Dragão, onde a escutavam a elaborar profecias sobre os futuros jogos da equipa azul e branca. Após a notícia, porém, os suspeitos terão mudado o seu comportamento e passado a ter cuidados redobrados com as comunicações por telemóvel, enquanto a adivinha fechou a loja e passou a ser funcionária do clube, onde aufere um vencimento mensal de 15 mil euros.
Suspeitam os investigadores judiciais que estas alterações poderão ter que ver com o facto de a “bruxa” estar até então a ser paga em numerário levantado de uma conta existente no Banco Carregosa – instituição de gestão de fortunas com sede no Porto – aberta em nome de José Pedro Pinho, mas tida como “saco azul” do presidente do FC Porto para liquidação de vários tipos de despesas, desde carros para namoradas suas até pagamentos ao chefe da claque portista, Fernando Madureira. Só à sua conta a vidente terá recebido perto de 600 mil euros. Pinho, figura hoje muito próxima de Pinto da Costa, ganhou notoriedade em abril passado ao agredir um repórter televisivo de imagem à frente do líder portista, perante a sua indiferença (ou até aparente concordância).
O incómodo interno causado pela integração de Madalena Aroso no quadro portista prende-se com o seu ordenado, muito superior ao de qualquer outro funcionário da estrutura do FC Porto, mas também por ocorrer num período em que o FC do Porto se encontra ao abrigo das chamadas regras do fair play financeiro da UEFA (Federação Europeia do Futebol), um mecanismo que impõe que os clubes não gastem mais do que arrecadam com a receita, destinado a impedir lavagem de dinheiro no seu seio.