Cazaquistão. Intervenção militar encabeçada pela Rússia de saída

O caos é visto como resultado da complexa política tribal cazaque. O Presidente Tokayev ficou na mó de cima, afastando a fação do seu antecessor, Nazarbayev.

Esmagados os protestos contra o aumento do preço dos combustíveis no Cazaquistão, causando dezenas de mortos e mais de 11 mil detidos, os 3600 militares da missão da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC, em russo) – uma espécie de NATO de ex-repúblicas soviéticas, encabeçada pela Rússia – preparam-se para retirar até quinta-feira, anunciou o Presidente cazaque, Kassym-Jomart Tokayev.

Após cinco dias com a internet bloqueada em todo o país, para impedir manifestantes de se organizarem, os cazaques estão de novo contactáveis. No entanto, ainda não é claro exatamente o que se passou.

Uns veem o aumento do preço dos combustíveis como o gatilho para a expressão de um descontentamento mais profundo, devido à acumulação da riqueza deste país cheio de urânio, petróleo e mineração de bitcoin por uma elite oligarca. Já o Presidente fala de uma conspiração de “terroristas” – aliás, deu ordem às forças de segurança e militares para disparar sobre sem aviso –  e cada vez mais analistas apontam para uma disputa de poder entre as elites dos clãs cazaques. Em particular entre o clã Shaprashty, do ex-presidente Nursultan Nazarbayev, do sul, que controla boa parte do aparelho de Estado e da economia, e os clãs do norte, uma região rica em hidrocarbonetos, cuja população vê poucos lucros do setor.

Quem saiu a ganhar foi Tokayev, que até estes protestos fora apontado como um fantoche de Nazarbayev. O ex-presidente, apesar dos seus 81 anos, mantivera a liderança do poderoso Conselho de Segurança, com o título de “Líder da Nação”. Já Tokayev não hesitou em culpar Nazarbayev pelos distúrbios – “é da maior importância perceber porque é que o Governo não agiu face ao treino clandestino para ataques terroristas por células adormecidas”, declarou o Presidente, citado pela Al Jazeera – e em afastá-lo do seu posto.

Tokayev, oriundo de um clã diferente de Nazarbayev, seguro graças ao apoio de Moscovo, ainda se deu ao luxo de afastar  o chefe das secretas, Karimov Masimov, acusando-o de traição e encetando uma purga que atingiu outros altos cargos ligados ao clã do ex-presidente. Entretanto, Tokayev confirmou como primeiro-ministro Alikhan Smailov, apontado como um tecnocrata mantido a rédea-curta.