Reciclar vai continuar a ser um dos principais desafios ambientais

Para reciclar precisamos de continuar a separar as diferentes famílias de produtos e materiais que estão misturados no nosso balde do lixo. A tecnologia ainda não consegue resolver tudo e as empresas e os cidadãos têm mesmo que se empenhar e separar no momento em que o lixo é produzido.

Por Pedro Nazareth, Director-Geral do Electrão – Associação de Gestão de Resíduos

Reciclar resíduos vai continuar a ser um dos principais desafios ambientais das próximas décadas. Reciclar preserva recursos naturais, reduz a extracção de matérias-primas e permite tratar e depositar correctamente alguns materiais poluentes e de difícil degradação ainda presentes nos produtos que consumimos. Reciclar é também central na mitigação das alterações climáticas, permite reduzir as emissões de gases com efeito estufa sobretudo pela eficiência carbónica resultante da preservação dos materiais já extraídos da crosta terreste.

Além da dimensão ambiental e de protecção da saúde humana, reciclar é também uma actividade com um relevante impacto social e económico pelo que representa a nível do emprego, da actividade empresarial e económica gerada. Hoje, o sector dos resíduos e da reciclagem em Portugal é composto por mais de duas mil e quinhentas empresas que geram mais de sessenta mil empregos e cuja actividade se traduz num volume de negócios de aproximadamente de 3 mil milhões de euros.

No pós-consumo e se não for possível reutilizar, reciclar é a melhor forma que temos de corrigir os graves problemas ambientais que decorrem do estilo de vida que assimilámos. Reciclar é melhor que incinerar, que por sua vez é melhor que colocar no aterro. É melhor ambientalmente, mas também em termos de emprego e de actividade econonómica gerados.

Para reciclar precisamos de continuar a separar as diferentes famílias de produtos e materiais que estão misturados no nosso balde do lixo. A tecnologia ainda não consegue resolver tudo e as empresas e os cidadãos têm mesmo que se empenhar e separar no momento em que o lixo é produzido. É um contributo individual e indispensável, de cidadania, procurar as melhores soluções locais de reciclagem com o apoio dos municípios e dos vários instrumentos de informação disponíves online – vide ondereciclar.pt ou waste app.

Correram mais de duas décadas desde que começámos a separar embalagens usadas e pouco mais se separa para reciclar hoje do que metade das embalagens consumidas em nossas casas. A outra metade das embalagens é queimada nas incineradoras e depositada em aterro. Passámos de um balde do lixo para quatro para conseguir separar as embalagens de vidro, plástico e papel cartão. Ainda estamos longe de ultrapassar os desafios das embalagens usadas e já temos para breve que encaixar na cozinha de nossas casas mais um balde para uma nova separação: os bioresíduos.

A electrificação de muitos dos produtos que consumimos torna o desafio da reciclagem ainda mais complexo, com a consequente electrificação dos lixos que produzimos e que infelizmente ainda misturamos com outros lixos industriais e urbanos. Esta forma misturada, como acaba por ser feita a recolha dos lixos eléctricos, inviabiliza o tratamento e limita o potencial da reciclagem. Nas baterias e nas pilhas estamos a conseguir recolher e reciclar metade do que devíamos e nesta família de produtos os números do consumo também vão continuar a aumentar.

Todos estes números aparecem reflectidos nas taxas de reciclagem do sector, transparentemente comunicadas a Bruxelas por Portugal e que espelha uma realidade que não enche de orgulho, naturalmente, nenhum agente deste sector.

Estamos perante um desafio sectorial com um contributo central e urgente numa das maiores questões do nosso tempo: a protecção ambiental e dos recursos do planeta.  O que deve remeter todos os agentes para um esforço genuíno de aproximação das diferentes posições e interesses, que seja catalítico de uma política de gestão de resíduos que produza melhores resultados. Sobretudo e acima de tudo que una os agentes na mensagem de mobilização dos cidadãos e das empresas para a correcta separação e reciclagem dos resíduos.