Vendedores de ilusões

Se a Direita tivesse juízo, tudo faria para perder estas eleições, pois o que se augura não é nada de bom. Com a inflação a subir, os juros  zero a terem uma morte anunciada, os custos brutais da reconversão verde num país que não chega a representar 1% da poluição mundial, eis o cartão de…

Nos tempos célebres do Liceu D. Dinis, em Lisboa, no final dos anos 70, as eleições para a Associação de Estudantes eram sempre uma festa. Se a seguir ao Verão Quente havia guerras de ‘intifada’, com pedradas entre os elementos afetos ao MIRN, partido associado à extrema-direita, e a UEC, a União de Estudantes Comunistas, quando entrei no liceu a história era bem diferente. Havia os conflitos ideológicos, mas muitos queriam era criar uma rádio, entre muitas outras reivindicações. Lembro-me que alguns candidatos prometiam este mundo e o outro, falando-se até na construção de uma piscina para a rapaziada conseguir dar uns mergulhos nos tempos de recreio.

E a que propósito surge esta conversa? Surge exatamente a propósito desta campanha eleitoral, pois há candidatos que se comportam como se fossem jovens estudantes do final dos anos 70, princípios de 80, onde se prometia tudo e mais alguma coisa. Não sei se os candidatos – e é quase transversal a todos os partidos – descobriram algum casino clandestino que lhes permita arranjar dinheiro para fazerem as suas promessas completamente loucas, atendendo à economia portuguesa. Quem não gostaria que as pessoas tivessem melhores salários, melhor habitação, melhores cuidados de saúde, e por aí fora? O que ainda ninguém disse é como é que se vai desencantar o dinheiro para abrir os cordões à bolsa. Daí pensar que deve haver minas de ouro em Portugal que desconheça por completo. É um lugar comum, mas o Estado só pode dar, supostamente, o que os contribuintes lhe dão. Tirando isso, só recorrendo a empréstimos, e se há algum país endividado, Portugal é um deles.

Se a Direita tivesse juízo, tudo faria para perder estas eleições, pois o que se augura não é nada de bom. Com a inflação a subir, os juros  zero a terem uma morte anunciada, os custos brutais da reconversão verde num país que não chega a representar 1% da poluição mundial, eis o cartão de visita para o próximo Governo.

Não é preciso ser um génio das finanças para perceber que está tudo mais caro, e que os salários se mantêm iguais – com a exceção do Salário Mínimo Nacional, e bem. No meu barómetro, que é a Feira do Relógio, há aumentos de 50% em alguns produtos hortícolas, além dos ovos e da fruta também terem tido um aumento considerável.

Se juntarmos a estes aumentos o preço dos combustíveis, da eletricidade e da água, o que nos reservará o futuro? Mais falências, pois as empresas não vão conseguir acompanhar este radicalismo verde, mais pobreza e mais desemprego, embora este fator seja o menor, pois não há pessoas para os trabalhos existentes.

Assim sendo, que interesse terá a Direita em governar outra vez numa pré-bancarrota anunciada? Claro que os seus militantes e adeptos poderão dizer que é melhor ‘pegar’ agora nos destinos da nação do que depois de isto piorar ainda mais. Mas façam uma ronda por restaurantes, lojas e mercados e vejam como está o estado da nação.

Mas, como sabemos, todos querem chegar ao poder, custe o que custar. E esta campanha eleitoral tem sido uma verdadeira desgraça, onde os partidos fogem às questões estruturais. À semelhança de Inês Sousa Real que foge das bancas de peixe e de carne como o Diabo foge da Cruz.  Domingo veremos o que diz o povo. Eu estou convencido que vai ser uma surpresa brutal, embora não saiba se para a Esquerda ou para a Direita. O milhão de confinados e o receio dos outros em irem votar, poderá provocar a maior surpresa de sempre nas eleições portuguesas.

P. S. Há uns anos fizemos uma capa no i que tinha o título: ‘Onde não está Marcelo?’, numa brincadeira com o livro de banda desenhada, Onde está o Wally? Marcelo estava em todo o lado, ao contrário de agora que desapareceu de cena, e muito bem. O Presidente como que se eclipsou e ninguém tem vistos as selfies mais famosas de Marcelo Rebelo de Sousa. E muito bem, mas acredito que o Presidente deve estar doente por estar há tanto tempo isolado…

vitor.rainho@sol.pt