O que é a existência? O que é viver? O que é estar vivo? Quem sou eu? Estas são das perguntas mais difíceis de responder, porque cada um procura, em todas elas, um sentido!
Qual é o sentido da minha existência?
Descartes teria dito: «Eu penso, logo existo». O inverso, no entanto, também é verdade: «Eu existo, logo penso». Porque se não existisse, não pensaria. Porém, nem tudo o que existe, pensa! Porque o pensamento é próprio do homem e há seres vivos que existem, mas não pensam. Também é verdade que há homens que não pensam, mesmo existindo, mas isso é outra história.
Fazer depender a existência da racionalidade levou, muitas vezes, o próprio homem à barbárie e ao desrespeito por outras dimensões da vida que não se podem apreender a partir da razão. Há, de facto, razões que a própria razão desconhece. Por isso, há coisas da existência que se intuem e só depois se levam ao pensamento.
A existência, hoje, contudo, já se faz depender da razão, mas do sentimento. Eu diria que hoje podemos afirmar: «Eu sinto, logo existo». Isto porque a existência está cada vez mais dependente do sentimento e não tanto da razão. Há, de facto, alguns teóricos que fazem depender a existência humana daquilo que cada um sente que é e, portanto, é necessário fazermos depender as leis e as verdades do mundo com os sentimentos de cada um, prescindindo agora da própria razão.
É estranho o que vamos encontrando na nossa vida, mas é a realidade. Hoje o sentimento é uma variável que está acima de muitas outras variáveis da existência humana.
Não podemos derivar a existência humana do sentimento, prescindindo da própria dimensão racional e, também, não podemos fazer derivar a nossa existência da exclusiva racionalidade do pensamento lógico. Porém, é necessário que possamos perceber se não estaremos a contrariar as conquistas que o conhecimento científico realizou nos últimos séculos, colocando de lado a própria razão para nos adequarmos a sentimentos mais ou menos difusos e subjetivos da própria existência.
É necessário não colocar de parte o sentimento, porque ele próprio faz parte da existência humana, mas também este deve passar pelo crivo da razão.
É curioso que a rejeição que o homem contemporâneo faz do discurso religioso tem a sua raiz na própria contradição lógica e racional, isto é, o discurso religioso, sendo extremamente simbólico, diz algumas verdades sobre a existência, cujos fundamentos lógicos e comprováveis, conforme ao método científico, são impossíveis de realizar.
De facto, o sentimento, fazendo parte da existência humana, deve ser considerado como uma fonte de conhecimento válida, mas deve, no entanto, entrar num diálogo com a própria razão.
É verdade que a razão não pode, na realidade, impor-se sobre todas as dimensões da vida humana, como uma ‘santa inquisição’ que tudo vêm tudo julga. Mas também é verdade que todas as dimensões da nossa vida devem entrar em diálogo com ela sob pena de começarmos a viver em contradição com o próprio pensamento.
Na realidade, tínhamos no seminário um velho padre espiritual que dizia: «Quem não vive como pensa, passa a pensar como vive». Isto nunca me saiu da minha cabeça, porque muitas vezes, como não consigo viver como penso, começo a pensar que a minha forma de viver as coisas é a mais correta. É disto que Jesus diz: «Fazei o que eles dizem, mas não façais o que eles fazem». Dizemos palavras bonitas, mas que são incapazes de entrar na nossa realidade, da nossa existência.
Uma existência dependente do sentimento, que contrarie a própria razão é, no fundo, uma contradição da própria evolução científica do conhecimento que o homem faz de si mesmo. Por isso, o caminho só pode trazer, para todos, um futuro de diálogo entre razão e sentimento capaz de dar um sentido racional à própria existência.