Vacinar crianças: ainda vale a pena?

Muitas crianças no período após a infeção têm um desequilíbrio nas suas defesas, aproveitado por outros vírus e bactérias para causar outras doenças

Por Vânia Mesquita Machado, pediatra

Sim».

Concretizando:

 Porquê vacinar as crianças se o ritmo de infeções está a abrandar?

A pandemia não terminou. Ainda existe risco de doença grave, tanto na infeção aguda, (ex-pneumonias), ou após semanas (MISC, por desregulação imunitária, mesmo em casos leves ou assintomáticos, em idades a rondar os 9 anos).

Os internamentos por doença covid em idade pediátrica nos hospitais portugueses são reais, muitos em crianças não vacinadas e elegíveis.

– Não é arriscado vacinar uma criança saudável?

O inimigo é o vírus, não a vacina.

Podem surgir sintomas mais tarde persistentes, o Covid Longo, até em assintomáticos. Muitas crianças no período após a infeção têm um desequilíbrio nas suas defesas, aproveitado por outros vírus e bactérias para causar outras doenças

– Posso vacinar o meu filho se teve covid sem eu saber?

Sim, nenhum estudo refere contraindicação; o CDC até recomenda vacinar crianças após o isolamento.

Quem receia doentiamente a vacina pelos eventuais riscos futuros, não deveria sair à rua: viver é um risco constante.

Uma vacina implica estudos exaustivos por investigadores competentes que se preocupam connosco; o vírus está-se nas tintas para os humanos.

– Com a pandemia a desacelerar, vacinar agora não é excesso de zelo?

Não, porque este vírus é novo e tem um potencial imprevisível de novas mutações.

Felizmente surgiu a vacina, não a ideal, mas salva-vidas.

O nosso organismo tem mecanismos de memória imunológica. Mesmo que um vírus se altere, depois do contacto (por doença ou por vacina) no arquivo ficam dados gravados, permitindo lutar contra numa eventual futura infeção, com uma resposta mais forte.

É impossível determinar o futuro da virulência do covid-19.

Ao surgir na China em 2019, nada fazia adivinhar que viveríamos este pesadelo. Os chineses mantêm as medidas rigorosas para controlar um imprevisto com outra variante.

Nem 8, nem 80. Devemos progressivamente mudar o chip que nos permitiu viver em ‘perigo iminente’ e criou circuitos automáticos a nível cerebral de novas rotinas, com sensatez e de acordo com o que for acontecendo em termos de gravidade da infeção. Não é saudável mantermos «vícios» da pandemia – vidrar em números de infetados, obcecar com a possibilidade de contrair o vírus mal espirramos, focar toda a conversa em covid.

A saúde mental requer maior atenção transversalmente a todas as idades, é urgente cuidarmos de nós e dos nossos, para conseguirmos fazer a transição.

Apontaram-me o dedo por insistir no tema de vacinar crianças. Quem não deve não teme.

«Não sou ninguém; sou só uma pediatra», disse ao declinar esta semana convites para falar em televisão, sou anti-vedetismo, preferia não ter tido exposição mediática, e os meus três filhos precisam de mim. Responderam – me que conseguia explicar com clareza porque importa vacinar as crianças.

Por isso resolvi escrever e tentar ajudar pais que estão indecisos.

Mesmo estando tudo dito por peritos das sociedades de Pediatria de todo o mundo.

Vacinar é jogar pelo seguro.

Julgo que seria pertinente permitir auto-agendamentos em crianças nas próximas semanas, para que pais impossibilitados este fim de semana, ou que entretanto mudem de ideias, possam vacinar.

E cito Dr Gustavo Carona: «Os pais não devem sofrer demasiado com a decisão.

Ser bom pai é decidir com consciência o que é melhor para os filhos».