O CDS

O CDS faliu, precisa de reformas internas e coragem para tomar decisões difíceis. É necessário competência e capacidade negocial para reposicionar o CDS nos próximos dois anos

Por Francisco Mota, Historiador e gestor de projetos

O rescaldo das eleições legislativas, infelizmente, confirma um cenário destrutivo para o CDS. Aquilo que era impensável acabou por acontecer, o partido ficou sem representação parlamentar pela primeira vez na história democrática. Este é o facto relevante para o futuro e o ponto final que TODOS devemos ter a consciência que é fundamental estancar a sangria do nosso partido.

Procurar culpados ou responsabilidades levaria a que o partido se esvaziasse ainda mais, porque todos são responsáveis pelo estado a que o CDS chegou. Líder, direção, grupo parlamentar, ex-dirigentes, dirigentes, TODOS e cada um com o seu ego, vaidade, individualismo, sede de protagonismo, ciúme e ganância de poder levaram a este resultado desastroso.

O problema do CDS foi o próprio CDS. Um partido que viveu fechado em si mesmo, que não conseguiu fazer das diferenças uma mais-valia e, pior que isso, autodestruiu-se usando o tempo de antena de que dispunha para falar para dentro e nunca para Portugal e para os portugueses. Um partido de reis absolutos e príncipes da nobreza falida que se iludiu no garante da história como sobrevivência, deixando assim de lado o país real. Um partido que reclama um elevador social para o país, mas há muito que avariou o seu. O mérito, competência e reconhecimento deram lugar ao taticismo, ‘amiguismo’ e poder pelo poder. 

Mais do que discutir ou apresentar candidatos a líderes o partido deve procurar uma estratégia que, antes de tudo, garanta a sustentabilidade financeira do CDS. Mais do que um líder é necessário uma equipa ‘gestora de insolvência’. O CDS faliu, precisa de reformas internas e coragem para tomar decisões difíceis. É necessário competência e capacidade negocial para reposicionar o CDS nos próximos dois anos. É nestes momentos que se vê a coragem dos líderes. O corajoso não é aquele que não tem medo das consequências, mas sim o que, mesmo com medo, faz o que tem que ser feito.

Antes de uma receita do passado ou do presente, é preciso perspetivar o futuro com visão alargada no tempo, sem histerias e com muita resiliência, até porque o futuro líder, seja ele quem for, não terá que ir a votos em legislativas nos próximos quatro anos. A missão da próxima comissão política nacional do CDS é reestruturar o partido, reformá-lo, criar bases internas para projetar e preparar o próximo combate político que são as eleições Europeias. A par disso, escolher, formar e preparar os dirigentes locais e distritais para as eleições autárquicas.

As bases do partido, em grande medida e salvo algumas exceções, são muito fracas, sem homens e mulheres de referência da terra, sem competência e capacidade de inovação na ação política de forma atrair os melhores para o projeto político local, tudo porque a prioridade das concelhias e distritais há muito que não é de servir as suas populações, comunidades ou região, mas criarem equipas fantasma, que rodam entre si para servir os seus interesses e objetivos pessoais, em troca de serem uns punhados de votos do poder centralista das direções do partido.

Há dirigentes locais e distritais que não prepararam as últimas eleições autárquicas, não apresentaram candidatos em concelhos onde o CDS já foi Câmara, que delegaram todo o processo no tempo e que, no final, atingiram resultados tão catastróficos como o destas eleições legislativas. Tal como numa árvore de fruto, quando as raízes que são a base do partido secaram, não se pode esperar que a árvore – o partido nacional – colha frutos. 

Quem não tiver a coragem de assumir isto, não estará disponível para reerguer o CDS e fazer desta crise uma oportunidade de crescimento e afirmação, nem terá a capacidade para fazer as leituras necessárias do ambiente político que se viverá fora do partido, mas que em toda a medida irá influenciar o posicionamento do CDS. 

A reafirmação do nosso partido passa por alavancar os nossos valores, as nossas gentes e os nossos programas a partir do poder local, sem nunca hipotecar a nossa matriz.

É na proximidade em cada cidade, aldeia, lugar ou rua de Portugal que temos a obrigação de demonstrar a utilidade de um partido como o CDS. É na afirmação da democracia-cristã que vamos reerguer não só o partido, mas mais importante que isso, devolver a esperança nas nossas comunidades, de uma sociedade sob pilares como a liberdade, subsidiariedade, solidariedade e a justiça.

O CDS tem que ser muito maior que qualquer nome, dirigente ou projeto pessoal. O que está em causa é a nossa missão enquanto instrumento ao serviço das nossas comunidades e capacidade de colocar o poder ao serviço das pessoas. 
Façamos desta nova realidade uma oportunidade para agarrar o futuro, não apenas para revisitar o passado.