José Tribolet e o ataque à Vodafone. “Quando alertei que era fácil deitar um Governo abaixo, era a coisas destas que me estava a referir”

Em entrevista ao i, especialista em cibersegurança diz que foi preciso um desastre a sério para chamar a atenção para as vulnerabilidades de sistemas críticos do país. Considera que uma das hipóteses é tratar-se de um ciberataque no quadro da tensão entre Ocidente e Rússia e avisa que este tipo de ataques estão a acontecer…

O ataque à Vodafone é um “alerta sério” e se alguma coisa tem de positivo é chamar a atenção dos responsáveis das instituições e empresas para as vulnerabilidades dos sistemas informáticos. A leitura é de José Tribolet, professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico e especialista em cibersegurança que há vários anos “prega aos peixes” as preocupações com o  investimento em IT nas empresas e instituições, sobretudo nas que têm um papel crítico na vida do país. Em 2019, fê-lo com uma provocação: disse que com 100 mil euros e uma pequena equipa, seria possível deitar um governo abaixo em 15 dias. “Era a coisas destas que me estava a referir. Atacaram a Vodafone, mas se tivessem atacado as três empresas ao mesmo tempo, estávamos num grau de perturbação nacional exponencial superior”, diz agora numa entrevista ao i, publicada na edição desta quarta-feira.

Quem atacou? Já esta quarta-feira, o grupo de piratas informáticos Lapsu$, que no final de janeiro reivindicou o ataque à Impresa, partilhou num canal do Telegram a palavra Vodafone, mas não reclamou a autoria, que está a ser investigada pela PJ. 

Para José Tribolet, é pouco provável terem-se tratado de hackers amadores. O investigador considera que mais realista será enquadrar este ataque no quadro da tensão entre Ocidente e Rússia, em que a guerra no ciberespaço já é real, o que torna os ataques contra países membros da NATO, expectáveis. Até porque já estão a acontecer, com maior incidência nos países do Báltico, além da própria Ucrânia, com sites governamentais mandados abaixo já em janeiro. “Não lhe chamava terrorista, chamava-lhe um ataque de origem político-militar, geoestratégico, no quadro das tensões atuais que temos no Ocidente. Todos os estados membros da NATO estão a ser sujeitos a ataques deste tipo e muito piores”, afirma, considerando que essa é uma abordagem “racional” de quem ataca. “Se há uma frente de luta no leste da fronteira da Rússia, vai querer-se perturbar na maior extensão possível a NATO, porque isso vai obrigar a uma dispersão de forças. É uma atitude racional de quem ataca”.

Carlos Cabreiro, diretor da Unidade de Combate ao Cibercrime da PJ, afastou ao i ter-se tratado de um ataque russo, com a polícia a manter outros cenários em aberto. Ter sido um ato relacionado com espionagem industrial é uma das hipóteses em investigação, confirmou o responsável.

Esta quarta-feira, a Movistar, parceira da Vodafone, esteve em baixo em Espanha durante duas horas, no que os responsáveis descreveram como uma avaria. Entretanto da parte dos reguladores bancários europeu e norte-americano já foram emitidos avisos às instituições para se precaverem contra eventuais ciberataques russos, noticiou hoje a agência Reuters.

Leia aqui a entrevista na íntegra.