Mulher confessa matar empresário à facada. Invadiu casa para procurar dinheiro para pagar dívidas

A arguida alegou que a sua intenção era apenas “fazê-lo desmaiar e amarrá-lo” para o roubar. ​Com uma avultada quantia de dívidas, a mulher planeou um assalto para solucionar os seus problemas. 

Uma mulher de 48 anos confessou, esta quinta-feira, no Tribunal de Guimarães o crime pelo qual está acusada: ter matado à facada um empresário têxtil em Famalicão, em julho de 2020. A arguida alegou que a sua intenção era apenas "fazê-lo desmaiar e amarrá-lo" para o roubar. ​Agora, a mulher responde em julgamento por um crime de homicídio qualificado, um crime de furto qualificado e um crime de detenção de arma proibida.

No começo do julgamento, a mulher contou que na altura estava endividada – em cerca de 48 mil euros – devido a uma pequena confeção que explorava, e que estava a ser "pressionada" por um credor para pagar. A juntar-se a esta situação, uns meses antes do crime, a arguida ficou desempregada com a chegada da covid-19 e também estava em processo de divórcio. Para além disso, teria problemas de consumo excessivo de álcool. 

Com a sua vida por resolver, e sabendo que a vítima, para quem chegara a trabalhar, costumava ter bastante dinheiro em casa, a mulher decidiu planear o assalto para solucionar os seus problemas. 

Na noite de 22 para 23 de julho de 2020 em Oliveira S. Mateus, Famalicão, a arguida dirigiu-se à casa da vítima, de 49 anos, para executar o plano. Encapuzada e com uma mochila que guardava uma faca de cozinha, fita-cola, luvas descartáveis e um recipiente com lixívia, a mulher subiu um muro, entrou em casa e, segundo explicou, encontrou o empresário a dormir no chão. 

Terá tentado encostar uma toalha com lixívia na cara dele, para o fazer desmaiar, no entanto, o homem acabou por acordar e tentou retirar-lhe o gorro que lhe cobria a cara. "A minha intenção nunca foi ofendê-lo corporalmente. Foi só fazê-lo desmaiar, amarrá-lo, assaltar e vir e embora", afirmou a acusada. 

De seguida, envolveram-se na luta e ela pegou na faca e desferiu pelo menos oito golpes na zona do tórax e abdómen, predominantemente do lado esquerdo. "Estava encurralada, ele podia descobrir quem eu era, podia-me fazer mal, agi por instinto", justificou. 

 

Com a vítima estendida sem vida no chão, a mulher percorreu toda a casa para procurar dinheiro, tendo encontrado oito mil euros dentro de uma cofre, quantia que levou consigo. 

Questionada pela juíza presidente, a arguida disse que levou a faca consigo para o caso de ser necessário abrir alguma porta. "Nunca tive ideia de atentar contra a vida dela", repetiu a arguida. 

Já a acusação conta uma versão muito diferente da acusada, que diz que a mulher atacou a vítima logo à chegada, quando esta dormia. Também afirma que a arguida ensopou uma toalha em lixívia e cobriu parcialmente o corpo da vítima com essa toalha, "convicta de que, ao agir desse modo, eliminava qualquer vestígio seu que pudesse ter ficado no corpo da vítima na sequência da abordagem que lhe fez".

"A arguida decidiu assaltar a residência da vítima, achando que lá poderia encontrar bastante dinheiro para fazer face à sua situação financeira, pensando que para o fazer teria de – ou poderia ter de – matar a vítima", argumenta o Ministério Público.

De realçar que, depois do crime, a arguida desfez-se da roupa que tinha vestida na noite do homicídio, ao colocá-la no lixo. 

A arguida foi detida quase um ano depois do crime, em abril de 2021, após o inquérito ter seguido "diferentes linhas de investigação, relacionadas com pessoas que hipoteticamente pudessem ter algum motivo" para o homicídio.

Durante a investigação, pelo menos nove pessoas foram consideradas suspeitas quanto a um eventual envolvimento na morte da vítima, mas todas essas suspeitas acabaram por cair.