Pela primeira vez na história da democracia portuguesa, a direita assumida tem mais deputados do que a esquerda extremista.
O Chega e a IL juntos têm 20 deputados, o que corresponde ao que o CDS tinha nos seus tempos áureos.
Só que o CDS nunca se assumiu como partido de direita, exceto na fase terminal com Francisco Rodrigues dos Santos e, num curto período, com Manuel Monteiro e Paulo Portas.
E essa indefinição, esse medo de ser a direita do regime, foi-lhe fatal.
O CDS não participou em nenhuma das batalhas em que seria suposto a direita envolver-se, e deixou o PCP e sobretudo o BE dominarem durante vários anos a agenda política, quase sem contraditório.
A esquerda extremista impôs a liberalização do aborto, a despenalização das drogas leves, as salas de xuto, o casamento de homossexuais, as operações de mudança de sexo, a eutanásia, as barrigas de aluguer.
E eu interrogava-me: mas corresponderá isto ao sentimento maioritário do país?
Onde está o Portugal conservador que sustentou o Estado Novo?
Onde estão as pessoas que ainda não há muitos anos elegeram Salazar como ‘o maior português de todos os tempos’?
Algo não batia certo.
O aparecimento do Chega e o seu rápido sucesso vieram mostrar que havia uma direita escondida que tinha medo de aparecer e que o CDS não representava de todo.
Ora, nestas eleições, finalmente essa direita saiu do armário.
E, a par do Chega, surgiu outra força política que também conseguiu o seu espaço nessa área: a Iniciativa Liberal.
Tratam-se, porém, de realidades muito diferentes.
Enquanto o Chega quer discutir questões morais, a IL é um partido amoral – só quer saber das questões económicas.
De números.
Mas isso é muito apelativo para os jovens, tendo em conta que as novas gerações são pouco moralistas e muito materialistas.
Valorizam sobretudo o sucesso.
Vivem muito em função do carro, do telemóvel de última geração, da roupa de marca – do consumo, em suma.
Mas não se distinguindo muito da esquerda no plano moral, a Iniciativa Liberal tem um papel fundamental noutro plano: a luta pela libertação da sociedade civil.
O socialismo tende afogar a sociedade com leis e impostos.
Para poder ter um Estado interveniente, um Estado capaz de fornecer serviços gratuitos, de empregar muita gente, de sustentar empresas não lucrativas (como a TAP), o socialismo tem de sobrecarregar os cidadãos e as empresas com impostos.
E isso asfixia a economia.
É contra esta asfixia que a IL luta.
Uma luta que ganha ainda maior importância num país como Portugal que, por circunstâncias históricas, é muito centralizado e tem um Estado demasiado pesado.
O império conduziu a essa situação, o salazarismo aproveitou-a e o socialismo tende a perpetuá-la.
A sociedade portuguesa precisa de um safanão liberal para se tornar competitiva.
Com este nível de impostos, com esta política de subsídios, com esta mentalidade de distribuir antes de produzir, nunca o será.
Por outro lado, enquanto o critério for premiar a lealdade politica e não o mérito, também jamais sairemos da cepa torta.
Mas a vida das sociedades não se resume à economia – e é aqui que entra o Chega.
O Chega quer discutir questões morais, alegando que elas estão na base da organização social.
Quer discutir a família, quer discutir o patriotismo, quer discutir o racismo, quer discutir a indisciplina nas escolas, quer discutir a imigração, quer discutir os subsídios estatais.
Ora, estes dois últimos temas vão ser duas das questões mais importantes deste século.
A imigração está já a levantar problemas terríveis na Europa.
Em Espanha, Itália, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha, Suécia, etc., há situações desesperadas: conflitos raciais gravíssimos, bairros onde a polícia não entra, lugares onde os naturais se sentem intrusos.
Isto estará certo e será sustentável?
É verdade que a imigração dá jeito ao sistema capitalista, pois os imigrantes suprem a falta de mão-de-obra indiferenciada: são os novos escravos do séc. XXI.
Mas sem um controlo apertado, a tendência é para África se mudar para a Europa.
Com todos os problemas de que os países africanos sofrem, a população tenderá cada vez mais a fugir e a emigrar para Norte – para o eldorado europeu.
Se não houver limites, criar-se-á uma corrente humana contínua, uma invasão silenciosa, que mudará a face da Europa.
Os partidos do sistema metem a cabeça na areia, os media chamam ‘xenófobos’ aos que querem discutir o problema – mas o Chega tem a coragem de o manter na agenda.
Outra questão decisiva são os subsídios estatais.
É preciso olhar de frente para o Estado-providência.
Desde a II Guerra Mundial até hoje, os cidadãos europeus conquistaram muitos direitos: 8 horas de trabalho diário, semana de 5 dias, saúde gratuita, escola gratuita, férias pagas, 13.º mês, subsídio de doença e desemprego, reformas por inteiro, etc. etc.
Estes benefícios foram sendo sustentados por um forte crescimento populacional e por um grande crescimento económico.
Só que esta situação está a chegar ao fim.
A natalidade reduziu-se e o crescimento abrandou.
Há, pois, que começar a discutir tudo: os subsídios, os serviços gratuitos, etc.
Prometer é fácil – com ainda agora se viu na campanha eleitoral.
Só que dentro em breve não vai haver dinheiro para tudo.
Mesmo hoje esta situação já só é sustentável em Portugal à custa de ajudas europeias e de um endividamento externo monstruoso com baixíssimas taxas de juro.
Mas isto não dura sempre.
Ora o Chega teve a coragem de ser o primeiro a pôr a ‘subsidiodependência’ na agenda.
Pelo que fica, se vê a importância do Chega e da IL.
Têm muitas batalhas pela frente.
Com as políticas preconizadas pelo PCP e pelo BE, de que o PS foi muitas vezes executor, não chegaríamos a lado nenhum.
Olhe-se para a Venezuela, olhe-se para Cuba. Era isso que queríamos?
Um país livre da asfixia do Estado, um país capaz de olhar de frente para os grandes problemas do futuro – como a sustentabilidade do modelo social e a imigração vinda do Sul -, é disso que Portugal precisa.