Sete décadas no trono

Foi há precisamente 70 anos que Isabel II assumiu os comandos do Reino Unido, por força da morte do seu pai, Jorge VI. Na altura, Winston Churchill comentou que a herdeira do trono era ‘apenas uma criança’.

Sete décadas no trono

É a primeira monarca britânica a atingir os 70 anos de reinado – mesmo o da longeva Rainha Vitória ficou-se pelos 63 anos, 7 meses e dois dias. Mas a ocasião foi assinalada de forma discreta, ou não tivesse a ascensão de Isabel IIao trono coincidido forçosamente com a morte do seu pai.

Fumador inveterado – um hábito que passou à sua filha Margarida, mas não a Isabel – Jorge VI não resistiu a um cancro do pulmão e morreu na Sandringham House, em Norfolk, aos 56 anos, a 6 de fevereiro de 1952.
Dias antes, a 31 de janeiro, o monarca havia sido aconselhado a não ir ao aeroporto de Heathrow despedir-se da sua filha Isabel, que partia com o marido para o Quénia, antes de seguirem para a Austrália e a Nova Zelândia. Nas viagens anteriores, o secretário de Isabel, Martin Charteris, não esquecera por um segundo o rascunho de uma declaração de ascensão.

Isabel e Filipe tinham passado a noite –a última dela como princesa – no emblemático Hotel Treetops, que encerrou definitivamente as portas por estes dias), na reserva de Aberdare. Chamado ao telefone, o príncipe recebeu a notícia da morte do Rei, transmitindo-a de seguida à mulher. Questionada pelo secretário pessoal acerca do nome régio que adotaria, não hesitou em responder: «O meu próprio nome, Isabel, é claro. Que outro poderia ser?». De regresso a Londres, aos 25 anos, vestida de preto, acenou ao público enquanto se dirigia para Clarence House. A 8 de fevereiro, foi proclamada Rainha.

O primeiro-ministro Winston Churchill apontou que Isabel, aos 25 anos, era «apenas uma criança». Ainda assim, foi o primeiro a notar: «Alguns dos maiores períodos da nossa História desenrolaram-se sob o cetro de Rainhas».
Somente a 2 de junho de 1953, na Abadia de Westminster, Lilibet, como sempre foi carinhosamente tratada pela família, subiu oficialmente ao trono. Na cerimónia, jurou cumprir a lei e governar a Igreja de Inglaterra, foi ungida com óleo sagrado, vestida com o manto e insígnias e coroada Rainha do Reino Unido, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Paquistão e Ceilão (agora Sri Lanka). A Índia já não pertencia ao império.

Apesar de todas as adversidades, o reinado de Isabel tem gerado consenso. E, acima de tudo, é o quarto mais longo da História. À sua frente só estão João II do Liechtenstein – 70 anos e 91 dias de reinado (1858-1929) –, Bhumibol Adulyadej (Rama IX), antigo Rei da Tailândia – 70 anos e 126 dias (1946-2016) – e, em primeiro lugar, encontra-se Luís XIV de França, com o recorde de 72 anos e 110 dias (1643-1715).

Volvidos 25567 dias da coroação, no passado sábado, «sua Majestade a Rainha organizou uma receção para membros da comunidade local e grupos de voluntários em Sandringham House na véspera de completar o 70.º aniversário do seu reinado», disse o palácio.

«É com muito prazer que renovo o juramento que fiz em 1947 de que a minha vida seria sempre dedicada a servi-los», disse a Rainha numa mensagem partilhada pelo palácio de Buckingham. «Fui abençoada por ter tido no príncipe Filipe um parceiro disposto a carregar o papel de consorte de maneira altruísta, fazendo os sacrifícios necessários. É um papel que eu vi a minha mãe desempenhar a vida toda durante o reinado do meu pai». Em seguida, fez uma revelação que tem gerado controvérsia: «E quando, no devido tempo, o meu filho Carlos se tornar Rei, eu sei que vocês dar-lhes-ão, a ele e à sua esposa Camilla, o mesmo apoio que me deram; e tenho o desejo sincero de que, quando chegar o tempo, Camilla seja conhecida como Rainha Consorte».

A resposta de Carlos não se fez esperar. «Estamos profundamente conscientes da honra representada pelo desejo da minha mãe». Um porta-voz da família real britânica garantiu que a duquesa da Cornualha ficou «sensibilizada e honrada».

Depois de Carlos, encontram-se William, Duque de Cambridge, e o seu filho, o príncipe George, em segundo e terceiro lugares, respetivamente, na linha de sucessão ao trono. 

*Com José Cabrita Saraiva