Novos tempos precisam-se

O país pede um novo governo competente e sério que administre bem o PRR, que sirva para nos qualificar, desenvolver, tornar mais competitivos, que diminua as assimetrias e promova a coesão territorial

A vitória de Carlos Moedas deixou todos surpreendidos, a começar pelos socialistas que não tinham arrumado nem desocupado um gabinete. Lisboa era não só a joia da coroa, mas o verdadeiro centro nevrálgico do poder de António Costa: autarca entre 2007 e 2015, quando saiu deixou no seu lugar Fernando Medina, um delfim, coadjuvado por Manuel Salgado. Dos Paços do Concelho para S. Bento levou vereadores como Duarte Cordeiro ou Graça Fonseca e aliados e colaboradores antigos e leais (Helena Roseta e um sem fim de diretores municipais).

A vitória de Carlos Moedas deveu-se ao seu mérito, currículo de excelência, novidade, competência, à equipa apresentada e aos partidos da coligação Novos Tempos, mas também se ficou a dever ao desleixo e sobranceria de Medina e ao cansaço de Costa. 

Se os social-democratas sonharam com novos tempos no país todo, os socialistas apanharam em Lisboa o susto suficiente para fazerem tudo o que pudessem para manter os velhos tempos socialistas.

Depois da maioria absoluta socialista e da vitória em todos os distritos, o poder socialista é absoluto. Lisboa está cercada. Sem maioria para governar na Câmara (tem sete vereadores em dezassete) nem na Assembleia Municipal, Carlos Moedas terá de negociar medida a medida para implementar o seu programa e terá sempre a espada do chumbo do orçamento por cima da cabeça. 

A tentação de fazer cair Lisboa vai ser demasiado grande e António Costa terá muito trabalho em convencer os jovens turcos do seu partido a não provocarem a queda do executivo municipal. Há a obvia possibilidade de Carlos Moedas ganhar com maioria absoluta, tal e qual como Costa ganhou…

Entretanto, um governo que ainda não existe já mostra o governo que há de ser. Fruto da trapalhada das eleições dos nossos compatriotas no estrangeiro e do chumbo do Tribunal Constitucional obrigando à repetição do ato eleitoral, tão depressa não temos governo. 

Não sei que governo teremos, mas sei aquilo de que precisamos: o país pede um novo governo competente e sério que administre bem os fundos do PRR que sirva para nos qualificar, desenvolver, tornar mais competitivos, que diminua as assimetrias e promova a coesão territorial.

Já se vê o fim à pandemia, o fim das restrições e o regresso à vida normal, é por isso de supor que os portugueses não liguem muito à política nos próximos tempos, preferindo viver a vida que estava suspensa e que aguentem com um sorriso nos lábios o aumento dos combustíveis, a inflação, os escândalos e o que mais houver. Pelo menos até outubro, depois, logo se vê.