Reino Unido. Alívio pode ser ‘areia nos olhos’

Governo anunciou alívios das restrições contra a pandemia, mas há quem  acuse Johnson de desviar as atenções do ‘Partygate’.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou no início desta semana uma série de medidas que representam um alívio nas restrições contra a covid-19, mas apesar do tom triunfante do anúncio, alguns políticos acusam Johnson de atirar «areia para os olhos» e de tentar desviar a atenção das suas acusações do ‘Partygate’.

O Governo britânico revelou que pessoas infetadas com covid-19 já não vão precisar de ficar em isolamento profilático. Já o fim dos autotestes antigénio gratuitos tem dada marcada para 1 de abril, uma medida que custou aos cofres do Estado cerca de 2.400 milhões de euros, em janeiro. 

As medidas deveriam terminar dentro de um mês, ou seja, a 24 de março, no entanto, o Executivo britânico decidiu antecipar a data e avançar com o que apelidou de estratégia de «aprender a viver com a covid», substituindo a intervenção do Governo pela responsabilidade pessoal individual.

«Com a população protegida com as vacinas e a capacidade de resposta rápida ao surgimento de novas variantes é altura de recuperarmos a nossa confiança», defendeu o primeiro-ministro britânico, dirigindo-se aos deputados da Câmara dos Comuns, no Parlamento britânico. 

Assim, as pessoas vão continuar a ser aconselhadas a testarem e a cumprirem auto-isolamento, bem como a usar máscaras em espaços fechados ou com muitas pessoas, ainda assim, de forma opcional.

Além destas medidas, o Governo britânico anunciou, esta quarta-feira, que vai eliminar a necessidade de testes à covid-19 antes de viagens para Inglaterra e rejeitou introduzir mais medidas de contenção contra a variante Ómicron.

Numa declaração no Parlamento, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que o Conselho de Ministros concordou que o chamado ‘Plano B’ deve continuar nas próximas três semanas, até pelo menos, 26 de fevereiro, o que implica teletrabalho e o uso obrigatório de máscaras na maioria dos espaços públicos fechados.

«Este Governo não acredita que precisamos de fechar o nosso país novamente», rejeitando novas restrições, apesar de admitir que o país está a registar «o crescimento mais rápido de sempre em casos de covid» e que os hospitais estão a sentir uma elevada pressão.

Estas novas medidas foram recebidas com apreensão pela oposição, com o líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, a criticar Johnson por acabar com os testes gratuitos. «Quando se está a ganhar 2-1 a 10 minutos do final [do jogo], não se deve substituir um de seus melhores defesas», afirmou Starmer.

Apesar de o Executivo britânico reconhecer que a pandemia não terminou e que continua a existir incerteza sobre o que vai acontecer avança com a ideia de uma «abordagem cautelosa», com o primeiro-ministro a afirmar que este é um «momento de orgulho» uma vez que o Reino Unido é um dos primeiros países a remover as medidas de contenção introduzidas há dois anos, estando cada vez mais perto do «regresso à normalidade».

Argumentos que não convencem os partidos da oposição, alegando que este anúncio pretende desviar as atenções do ‘Partygate’, o escândalo das «festas» realizadas na residência oficial do primeiro-ministro, em Downing Street, em 2020 e 2021, desrespeitando as restrições para controlar a pandemia.

O relatório da investigação, realizado pela funcionária pública, Sue Gray, afirma que «pelo menos, algumas das reuniões em causa representam uma falha grave em cumprir não apenas os altos padrões esperados daqueles que trabalham no coração do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica na época».

Face a estes resultados, o primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, pediu desculpa em pleno Parlamento. «Primeiro, quero pedir desculpas. Lamento muito pelas coisas que simplesmente não fizemos bem e lamento muito pela forma como este assunto foi tratado», afirmou, depois de ter sido recebido perante um coro de apupos. Reconhecendo que «não basta pedir desculpas», Boris acrescentou: «Este é um momento em que devemos olhar-nos ao espelho e aprender. Eu percebo [o problema] e vou corrigi-lo», garantiu.