Do avesso

Mesmo em tempo de guerra, a falta de informação, ou pior, informação falsa, gera um ruído inevitavelmente prejudicial à agilidade mental do leitor.

De um lado para o outro, os cidadãos do mundo desenvolvido vivem num rebuliço. Ora são as notificações que não param, ora são as fontes de informação que inundam o espaço mental com informação desnecessária e, em muitos casos, falsa, adulterada ou, mais grave ainda, completamente fabricada.

Acredito que, mesmo em tempo de guerra, a falta de informação, ou pior, informação falsa, gera um ruído inevitavelmente prejudicial à agilidade mental do leitor.

Como consequência, a entropia de um processo de reflexão e decisão, seja qual for, independentemente do sujeito, faz da maior vantagem do século vinte e um, um severo e aguçado ‘pau de dois bicos’.

Todavia, hoje seria facilmente possível contornar e navegar esta dificuldade com mestria, não fosse a educação estandardizada focada nas competências técnicas e específicas. As nossas crianças e jovens sabem a História de Portugal, mas sofrem de distúrbios mentais; analisam poemas de Fernando Pessoa, mas carecem de literacia financeira; recebem um ‘canudo’, mas nem por isso enxergam um futuro autónomo, seja pela mediocridade da formação basilar para o ser humano, na medida de competências práticas para a vida, seja pela sustentabilidade do mercado de trabalho e de outras perspetivas de futuro.

 

Contrariamente àquilo que nos foi dito, ser diferente é claramente uma vantagem, quando os demais fazem fila para uma prisão mental. O valor de cada indivíduo encontra-se na combinação das suas características, personalidade e competências únicas que, por sua vez capacitam cada um dos leitores a fazer o seu percurso diferenciado, autónomo e de contribuição para a sociedade.

Ainda assim, creio ser crucial um equilíbrio: nem o desligamento completo das fontes de informação, nem a absorção de tudo aquilo que se nos é posto à frente dos olhos. Como consequência, sugiro o leitor defina com clareza, com os seus botões, o caminho que pretende fazer e a informação necessária para tal. É importante que se faça munir externamente da informação que responda às questões que o próprio levantou nesse mesmo percurso.

 

Somos todos agricultores do nosso futuro: no nosso campo fértil podemos escolher plantar toda e qualquer semente, ou peneirar aquelas que dão o fruto que realmente pretendemos.

Não entenda o leitor que eu próprio não usufruí do sistema instaurado. Não posso é negligenciar a estratégia eficaz que é munir-nos nas nossas armas, para quem todo e qualquer momento o mérito da autonomia e do valor acrescentado deem origem a uma vida melhor.

 

A educação está do avesso, como à semelhança desta Europa em conflito. Na sua estrada não siga o carro da frente, ouça a senhora simpática do seu GPS. O caminho é em frente.