Águas de março tiram Portugal da seca extrema

Ano hidrológico deixou este mês de ser o mais seco de sempre para ocupar o terceiro lugar, revela ao i vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente. “Estamos mais tranquilos mas temos de continuar vigilantes, economizar água e tornarmo-nos mais eficientes, porque o futuro nos reserva menos água”, sublinha Pimenta Machado.

A situação de seca desagravou-se significativamente com a chuva de março, deixando de haver zonas do país em seca extrema, o cenário que se vivia no fim de fevereiro em mais de 60% do território nacional. O balanço foi feito ontem ao i pelo vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente após a reunião do grupo de trabalho da Comissão Permanente de Seca, onde além da situação meterológica foi avaliado o estado das barragens.

“Estamos mais tranquilos mas temos de continuar vigilantes, economizar água e tornarmo-nos mais eficientes. Se há algo que sabemos é que o futuro nos reserva menos água”, sublinha José Pimenta Machado, aludindo às análises que dão conta de um aumento dos anos secos em Portugal nas últimas décadas, com impacto na disponibilidade e gestão de água no país.

Com a chuva das últimas semanas, o cenário é no entanto bastante diferente do que se verificava no final de fevereiro, quando choveu apenas 10% do histórico depois de um mês de janeiro também seco. Pimenta Machado adianta ao i que de acordo com os dados do IPMA apresentados na reunião, graças à precipitação de março o atual ano hidrológico deixou de ser o mais seco de que há registos em Portugal, passando a ocupar o terceiro lugar em termos de precipitação acumulada desde outubro, agora de novo atrás das secas que se viveram em 1998/1999 e 2004/2005.

Mantém-se em seca severa 16% do território, mas o padrão de chuva que se viveu nas últimas semanas acabou por ter um aspecto surpreendente, acrescenta o responsável: ao contrário do que era esperado e do que é habitual, choveu mais a Sul do que no Norte, o que permitiu um alívio da seca mais equilibrado do que se antecipava e uma recuperação da água nas barragens também no Tejo e no Mondego. Em Castelo de Bode, onde a água recuou em fevereiro para o nível mais baixo desde 2021, a cota já subiu 2,5 metros desde o momento mais crítico, quando chegou a baixar para os 106,12 metros. Situava-se este domingo nos 108,62 metros.

A recuperação é mais rápida no Norte mas para já, adianta ao i Pimenta Machado, a decisão da APA é manter a suspensão da produção hídrica nas seis barragens atualmente paradas para assegurar dois anos de consumo humano, tendo sido em Castelo de Bode definido como limite mínimo os 106 metros. “Poderemos vir a fazer uma reavaliação, mas neste momento não está tomada uma decisão”, diz o responsável, que nas últimas semanas liderou as reuniões regionais de seca.

No caso de Castelo de Bode, onde além de ter parado a produção de eletricidade foi reduzido a mínimos o caudal ecológico após a subida das lampreias e foram feitos transvases do Cabril (que com a chuva também já está numa situação confortável) a cota no ano passado sem seca era a esta altura de 118,21 metros, mais dez metros do que se verifica atualmente.

As situações mais críticas nas albufeiras continuam a ser a barragem da Bravura, a 15% da capacidade e na barragem do Monte da Rocha, cuja intervenção estrutural passa por uma ligação ao Alqueva. Nas reuniões regionais, além das medidas de contingência, foram reforçados planos para o aproveitameno de águas residuais tratadas para rega de espaços verdes e limpeza urbana, intervenções que a APA quer reforçar além do projeto de uma central dessalinizadora que vai ser instalada no Algarve, mas que só deverá começar a funcionar no final de 2025.

No imediato, as previsões são de que continue a chover em abril, o que poderá permitir chegar ao verão numa situação mais confortável, admite Pimenta Machado, insistindo que, apesar da melhoria, a adaptação à seca e economia da água continuam a manter-se como preocupações.