Soam os alertas para uma erupção na ilha de São Jorge

Os sismos são cada vez mais superficiais, indicando subida de magma, avisa José Madeira ao i. Velas, porto de saída da ilha, está em risco.

Geólogos têm-se mantido atentos aos registos sísmicos da ilha de São Jorge, à procura dos sinais de uma erupção vulcânica iminente, e agora eles surgiram. A sismicidade começou tornar-se cada vez menos profunda, indicando que o magma está a subir à superfície desde o abalo de 3.8 de magnitude desta terça-feira, alerta José Madeira, professor de Geologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) e investigador do Instituto D. Luiz, que no dia anterior descrevera ao i estes sinais como os mais preocupantes.

A possibilidade de que esta crise sísmica – a população já sentiu 221 sismos, segundo o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA) – simplesmente passe, ou cause um tremor de terra mais forte, parece cada vez menos expectável. “Diria que a probabilidade de uma erupção é agora muito elevada. É possível que rompa a oeste das Velas”, avisa o professor da FCUL. Pode tornar-se uma situação complicada, dado que o porto deste município é a via de fuga da ilha. 

“Digo a oeste das Velas porque entretanto, junto à Ponta dos Rosais, uma zona onde ainda não tinha havido sismos nenhuns, começou a ter sismos”, explica Madeira. “Parece que a fratura ao longo da qual tem havido a sismicidade se propagou um pouco mais para oeste. Há a possibilidade de haver uma migração de magma nessa direção”.

“A localização da erupção só mesmo em cima do evento é que dará para perceber”, ressalva o professor, que ainda assim considera mais provável uma erupção marítima. Se surgir a menos de uns 200 metros de profundidade, é de esperar que vejamos uma enorme coluna de cinzas, vapor de água, até a projeção de blocos de rocha a alguma distância, algo semelhante à erupção do vulcão dos Capelinhos, entre 1957 e 1958, que fez ilhas nascer e desaparecer à sua volta.

“Aí o principal perigo é a grande produção de cinzas vulcânicas”, antevê Madeira, dado que estas “são facilmente levadas pelo vento, e onde irão cair depende da direção”. É algo que “eventualmente pode justificar uma evacuação da zona mais próxima do centro eruptivo”. 

“Se houver derrame lávico nas vertentes sobranceiras à vila” a situação será mais grave, pois “aí pode mesmo causar a destruição total desta”, salienta o professor da FCUL. E nesse caso retirar a população pode tornar-se muito difícil. ”O caminho que as lavas tomariam é precisamente onde está a estrada. Teria de ser feita uma evacuação por mar”, avisa. Não espanta que boa parte dos alunos e professores de Velas estejam a faltar às aulas, um indicador do receio que se vive. Ou que muitos habitantes se tenham dirigido à Calheta, do outro lado da ilha.