O momento de parar

Tentei exercitar nos  meus escritos a análise racional, animado pelos grandes valores  morais que me nortearam sempre

1.A reflexão sobre o imbróglio da Ucrânia conduziu-me inesperadamente à compreensão de um livro admirável de Umberto Eco: O Cemitério de Praga. Permitam-me que sugira a sua leitura.

Está vedada aos homens comuns como eu, o conhecimento, por vezes sequer aproximado, dos enredos do mundo. Somos espetadores, figurantes, peões, instrumentos, mas de algum modo sempre vitimas. Tentamos ler, saber, refletir, mas ler o quê? Ouvir quem? Que imagens e dados considerar? Se devemos pressupor tudo poder estar manipulado? Como destrinçar, se o que cada vez mais e mais sofisticadamente nos é oferecido são construídas representações do mundo?

Mas os homens, todos os seres humanos são reais. O sofrimento e as alegrias, são factos, como cada um de nós bem sabe. Temos de estar antes de tudo ao lado dos que sofrem.

2.Encerro hoje esta coluna que tenho mantido semanalmente. Não me despeço dos leitores por que os meus Amigos do Nascer do Sol me permitem que continue a escrever, mas sem a obrigação voluntária de o fazer todas as semanas. 

Devo ao Nascer do Sol a vitória sobre mim próprio de ter vencido durante meses a minha preguiça estrutural de me obrigar a prazos. Foi uma experiência muito enriquecedora e uma honra escrever num jornal como em cada semana cada mais se afirma o nosso semanário: independente, plural, competente, dando conta do que na semana vale a pena reter e refletir, textos na dimensão adequada para poder serem lidos, empenhado na procura da verdade, ao serviço dos leitores, não de nenhum interesse ou ideologia, que não serve ninguém nem quer agradar a todos. Com um formato manuseável e graficamente limpo, legível.

3.Tentei exercitar nos meus escritos a análise racional, animado pelos grandes valores morais que me nortearam sempre. O meu empenho é a procura da verdade, aproximando-me dela tanto quanto me permitem a liberdade e a vontade com que fui dotado e o conhecimento que com elas fui e vou sendo capaz de adquirir. Vencendo os preconceitos. O meu adversário de todos os momentos, adversário da procura da verdade, da paz e do concerto do mundo é a ideologia, o desprezo dos factos, as ideias falsas, como certeiramente definiu a ideologia Marx – o pregador, não o praticante. 

Obrigado aos que me leram, felicidades para todos. Até breve.