1. André Ventura é mesmo um caso de estudo. Tem o dom da palavra, adora discursar e fá-lo com o mesmo à vontade na televisão como no Parlamento, mas quando as coisas lhe começam a correr bem tem uma tendência para se despistar que é impressionante. Se nos últimos dias de plenário, quer antes do Governo tomar posse, quer já na nova legislatura, ganhava adeptos – pelo menos a avaliar pelos whatsapps que circulavam entre pessoas que não são do Chega –, quando vai para o púlpito da Assembleia da República a história muda de figura. Entusiasmado, agora até tem uma claque considerável, o líder do Chega lá voltou ao problema dos ciganos. Se o tivesse feito de uma forma racional, até se percebia, já que está no seu programa eleitoral – e este é um problema que todos os partidos deviam ponderar, até pelo desenraizamento da comunidade em alguns pontos do país. Mas Ventura quando se entusiasma leva tudo à frente e comete disparates bem evitáveis e condenáveis. Falar de um cigano que, supostamente, esteve envolvido na morte de um agente da PSP, sem se referir aos dois fuzileiros que estão detidos não lembra a ninguém. Será que os fuzileiros estão desculpados por Ventura e o cigano é que é culpado?
2. É chato estar sempre a bater nos mesmos, mas Rui Rio não tem emenda e quer mesmo ficar como o cangalheiro do PSD. A insólita situação do partido – o CDS, que se debateu com o mesmo problema de sucessão, já conseguiu resolver o seu drama – só dá espaço ao Iniciativa Liberal e a ao Chega, empurrando o PSD para uma situação de menoridade que poderá ficar muito cara aos sociais-democratas. Rui Rio, vá-se lá saber porquê, não quer continuar no cargo mas também não demonstra vontade nenhuma de sair. Neste estado vegetativo, o partido corre o sério de risco de acordar com uma influência muito menor no país. Será que Rui Rio ainda não percebeu que não faz parte da solução, mas sim do problema?
3. Não sei se o PSD está doente, pois não conheço o partido, mas sei que não anda nada bem, a avaliar até pelo anúncio da JSD, que apelou aos seus militantes para não irem de calças bege e blazer azul para o congresso dos juniores laranjas. O dress code até pode ser uma brincadeira, embora tenha sido anunciado de uma forma séria no Twitter, e já mereceu uma polémica animada nas redes sociais._Se era esse o objetivo, foi conseguido. Houve mesmo quem tivesse dito que a «desbetificação está em curso». Será que chegámos a um tempo em que betos já não se podem assumir como betos? Terão que ir noutro género? «Fãs da calça bege e do blazer azul escuro, temos más novidades para vós! O dress code do 27.º Congresso da JSD dita que está proibida esta vestimenta. Venham confortáveis e prontos para estar na linha da frente!», acrescenta o tweet laranja. Calculo que a maioria aparecerá vestida de t shirt verde militar, a copiar o estilo Zelensky. O mundo está mesmo estranho.
4. Por falar em Ucrânia, foi preciso a Rússia invadir o território para saber que Portugal tem mais generais que índios. E que alguns devem ter vestido uma farda vermelha, tal é a sua devoção a Putin. É um gosto vê-los defender a sua causa, pois como vivemos em democracia nada como dar palco a toda a gente. E é estranho que os defensores de Putin, perdão, da paz, estejam sempre a dizer que os querem silenciar. Onde é que isso se passa? Ou será que não querem que quem pensa diferente de si possa dizer de sua justiça? Que não se denunciem as atrocidades russas? Que gostem de se colocar ao lado do agressor em vez do agredido, é lá com eles. Esperemos é que nunca sejam assaltados em casa, por alguém armado, e que respondam que é preciso é paz e que os deixem continuar com as suas coisas.
vitor.rainho@sol.pt
