A Ucrânia não existe

Por mais voltas que os ‘negacionistas’ queiram dar, o agredido é a Ucrânia e os ameaçados são a Finlândia e a Suécia, além de outros nas proximidades. E não nos podemos esquecer da ameaça do antigo Presidente russo da história da Euroásia…

As cenas dramáticas que nos chegam da Ucrânia são revoltantes e é sobre aquilo que vemos que ficamos indignados. Não sei se os russos têm imagens de atropelos dos ucranianos, mas se as têm devem-nas divulgar ao mundo e sobre elas falaremos. Mas, que se saiba, o agressor é russo e o agredido é ucraniano, não querendo isto dizer que os soldados de Zelensky são uns santos. E, por mais evidente que isto seja, ainda há muitas almas que se manifestam contra a divulgação da barbárie russa, como se fosse proibido divulgar tais imagens.

É curioso que nem mesmo as imagens dos repórteres internacionais e nacionais servem de prova para esses ‘negacionistas’, que gostam de dizer que se sentem encurralados. Encurralados por quem e onde? Cada um é livre de dizer o que pensa, e não pode ficar amuado por que alguém pensar diferente. O último caso de discórdia dos ‘negacionistas’ diz respeito à intenção da Finlândia e da Suécia entrarem para a NATO, dizendo os ‘inimigos’ de Zelensky que são os EUA e a União Europeia os responsáveis por tais intenções. É preciso ter muita falta de imaginação para ir por aí. Depois do que aconteceu à Ucrânia não é normal que esses dois países nórdicos queiram a proteção da NATO? Fazendo parte da União Europeia, não é natural que queiram as mesmas defesas que os outros países?

O que se pode e deve discutir é que tipo de armamento a NATO pode instalar na Finlândia e na Suécia, devendo ficar logo de fora, como é evidente, armamento nuclear.

Por mais voltas que os ‘negacionistas’ queiram dar, o agredido é a Ucrânia e os ameaçados são a Finlândia e a Suécia, além de outros nas proximidades. E não nos podemos esquecer da ameaça do antigo Presidente russo da história da Euroásia…

Entre o mundo da NATO e o antigo Pacto de Varsóvia, percebemos que muitos optem pelos segundos. Afinal, estão a ser coerentes com a vida que sempre defenderam…

Mudando de assunto, o que dizer da oposição da Câmara Municipal de Lisboa que aprovou, sem qualquer estudo, a diminuição cega da velocidade dos automobilistas na capital? Os cérebros do Livre, que apresentaram a proposta, e os vereadores do PS e do BE que a aprovaram, gostam de brincar com a vida dos outros só para chatear os partidos que venceram as eleições.

Como muito bem disse ao i Fernando Nunes da Silva, especialista em Mobilidade e antigo vereador, não faz qualquer sentido reduzir a velocidade nas autoestradas citadinas, e que a redução nos bairros habitacionais, históricos e de serviços, deve ser acompanhada de outras medidas, como seja «introduzir dispositivos físicos para forçar a diminuição de velocidade e dar uma clara prioridade ao peão, tirar os carros estacionados que escondem os peões, além de reduzir as faixas de rodagem para os automobilistas saberem que estão em zonas onde devem dar atenção às pessoas e reduzir a velocidade». É assim que se combate a sinistralidade e o atropelamento de peões, alguns mortais. O resto é pura caça à multa.

Quem vai conseguir descer, por exemplo, a Marechal Gomes da Costa a 40 km/h? A medida anunciada, além de ser uma aberração, vai ainda contribuir para o aumento da poluição, pois vai provocar muito mais engarrafamentos. E é assim que se faz política.

P. S. O espetáculo degradante no funeral da morte da jornalista palestiniana deve merecer o repúdio de todo o mundo civilizado. Os israelitas podem ter muitas razões de queixa dos palestinianos, e vice-versa, mas não é matando jornalistas e agredindo pessoas que ostentam uma bandeira que vão conseguir a paz. E Israel tem de provar que quem matou a jornalista não foi um soldado seu.

P. S. 1. Morreu Jerónimo Pimentel, um dos fundadores do SOL. Há muito que não falava com ele, mas era sempre um prazer brincarmos com coisas que hoje são proibidas. Espero que possa beber um bom tinto onde quer que esteja. Saúde!

vitor.rainho@sol.pt