Chegou o início do fim da ciclovia da Almirante Reis

Lisboa amanheceu na quinta-feira com parte da ciclovia da Almirante Reis apagada. E o que não faltou foi polémica.

Quem passou pelo troço da Avenida Almirante Reis, em Lisboa, que se cruza com a Alameda D. Afonso Henriques, na noite de quarta-feira e na manhã de quinta-feira, deparou-se com uma curiosa obra: parte da ciclovia que tanta polémica gerou nos últimos meses, e que esteve presente frequentemente nos discursos de Carlos Moedas, começou a ser destruída.

Um camião com matrícula espanhola, que lia ‘Conservación’, limpava a tinta verde que em tempos marcou o pedaço de ciclovia que cruzava a Alameda, e que agora será novamente domínio dos automóveis. E pouco demorou até que as redes sociais dessem conta do acontecimento. Em simultâneo, críticas e elogios jorraram dos internautas. “Depois de ouvir centenas de pessoas e organizações, o presidente Carlos Moedas está a cumprir o que há muito anunciou para a ciclovia da Almirante Reis”, dizia António Valle, assessor do autarca, no Twitter. Isto na manhã de quinta-feira, depois de, na quarta-feira à noite, o deputado municipal do Bloco de Esquerda em Lisboa, Ricardo Moreira, ter acusado na mesma rede social: “No dia de reunião de Câmara, minutos depois de Carlos Moedas se ter comprometido com o Bloco que haveria uma consulta pública para a ciclovia da Alm. Reis as obras avançaram. Assim não.”

 

Reações políticas

Das redes sociais ao partidos políticos, pouca foi a distância. Na reunião pública do Executivo camarário, na noite de quarta-feira, Ricardo Moreira, em substituição de Beatriz Gomes Dias, tinha já acusado: “A ciclovia da Almirante Reis foi retirada esta quarta-feira, agora, esta noite, há um troço que foi retirado, a sinalética foi retirada, foi arrancada do chão, uma zona grande na Alameda esta noite mesmo.”

Uma realidade que deixou o vereador “bastante desiludido” com Carlos Moedas, argumentando que houve o compromisso de agendar, para a próxima reunião do Executivo, marcada para a próxima segunda-feira, a proposta do BE, do Livre e da vereadora independente do Cidadãos por Lisboa (eleita pela coligação PS/Livre), que sugere que seja apresentado o projeto de alteração fundamentado para a ciclovia da Almirante Reis “antes de qualquer alteração na configuração do perfil da avenida” , abrindo “um período de recolha de contributos de não menos 30 dias”. Carlos Moedas respondeu desconhecer o avanço das obras, mas deixou uma ressalva: “Se a vossa proposta é parar tudo o que se está a fazer, que é o bloqueio que o senhor vereador está a preparar para fazer, nós bloquearemos, bloquearemos quando votarem esse bloqueio”, declarou o presidente da Câmara.

Por sua vez, Rui Tavares, vereador do Livre, considerou haver uma “falta de respeito” no avançar das obras na Almirante Reis antes da votação da proposta para consulta pública do projeto, que, admitiu, até pode estar dentro da legalidade.

 

Anúncio há um mês

Durante uma visita ao Bairro da Boavista, na freguesia de Benfica, em Lisboa, Carlos Moedas argumentou não ter acontecido “nada de extraordinário” na noite de quarta-feira, defendendo que a solução para a avenida está anunciada há um mês.

“O que vamos fazer no imediato? Retirar a ciclovia do sentido ascendente e colocar duas faixas para automóveis. Colocar toda a ciclovia no sentido descendente. O que é que isto vai permitir? Que o trânsito escoe da cidade com maior fluxo e permite também que todos os utilizadores da ciclovia continuem a percorrer a avenida”, anunciou Carlos Moedas, em março, no Twitter.