Israel. Marcha de nacionalistas judeus causa o caos em Jerusalém

No ano passado, festejos culminaram em 11 dias de bombas a cair em Gaza.  

Nacionalistas judeus marcharam sobre bairros muçulmanos na Cidade Velha, celebrando a conquista e anexação de Jerusalém por Israel, em 1967, envolvendo-se em confrontos violentos horas após dezenas deles, levando bandeiras israelitas, invadirem a mesquita de Al-Aqsa, um dos santuários mais sagrados para o islão. Todos os anos, as celebrações desta data por nacionalistas judeus causam tensão. Da última vez, culminaram com 11 dias de ataques israelitas a Gaza, após o Hamas disparar rockets contra Israel.

Costuma haver alguma hesitação entre as autoridades isralitas quanto a permitir as marchas, sabendo que são vistas como uma provocação – uma demonstração do domínio israelita sobre os palestinianos. Mas não surpreende que primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, que chegou ao poder liderando um partido nacionalista judeu, tenha decidido aprovar as marchas, permitindo que passassem pelo Portão de Damasco, a principia entrada da Cidade Velha. Colocaram a polícia israelita em alerta, com mais de três mil efetivos a abrir o caminho aos nacionalistas judeus ao longo de bairros muçulmanos, enquanto estes gritavam provocações.

“Um árabe é um filho de uma p***”, gritavam uns, nos portões de Damasco, cantando e dançando, avançou a Reuters.

“Que as vossas aldeias ardam”, gritaram, numa referência à Nakba, ou “catástrofe”, em árabe, ocorrida em 1948, quando se estima que 700 mil palestinianos tenham sido expulsos das suas terras, sem ter podido ainda regressar, tendo muitos deles vistos as suas aldeias queimadas.  

Um judeu ultra-ortodozo cuspiu numa idosa muçulmana, pontapeando-a, viu um repórter do Guardian, enquanto se atiravam garrafas de vidro de um lado para o outro. A multidão riu e troçou quando o Crescente Vermelho tentou retirar um palestiniano ferido. Pelo menos 15 pessoas foram feridas pela polícia israelita, que chegou a ocupar um salão de oração no complexo de Al-Aqsa, prendendo no terraço os fiéis para que os nacionalistas judeus pudessem passar, avançou a Al Jazeera.

Ainda este mês este canal acusou militares israelitas pelo homicídio deliberado de Shireen Abu Aqleh, uma repórter veterana palestino-americana, de 51 anos, que era das jornalistas mais conhecidas no mundo árabe.

Estima-se que 25 mil israelitas tenham participado nas celebrações do Dia de Jerusalém, apesar das ameaças dos Hamas, o grupo extremista islâmico que controla Gaza, no caso das autoridades permitirem a marcha. “Eles podem evitar uma guerra e uma escalada se pararem esta loucura”, declarara Bassem Naim, um dirigente de topo do Hamas, numa altura de tensão, após uma onda de atentados em Israel, que fez 19 mortos, seguida por uma série de rusgas retaliatórias em Jerusalém e Cisjordânia, onde morreram 35 pessoas, incluindo Shireen Abu Aqleh.

Já o ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, um antigo general, em tempos foi visto por alguns como um rival mais moderada de Benjamin Netanyahu, reagiu defendendo a decisão de aprovar as marchas do Dia de Jerusalém. “Vamos fazer qualquer tipo de marcha que quisermos na nossa capital”, afirmou o ministro, referindo-se a esta cidade como a capital de Israel, apesar de não ser reconhecida como tal pela vasta maioria da comunidade internacional.