O PSD e o futuro

Para os partidos, o caminho tem de ser o contrário: devem situar-se à esquerda ou à direita, sem complexos, e depois, nos períodos eleitorais, partindo de posições claras, caminharem em direção ao centro no sentido de conquistarem esse eleitorado mais despolitizado.

O que fez Rui Rio após ser eleito líder do PSD? Lembram-se?

Foi falar com o primeiro-ministro, António Costa.

Em vez de ir ao encontro do seu parceiro natural da direita, o CDS, foi falar com o chefe do Governo – como se o seu papel fosse entender-se com este e não fazer-lhe oposição.

Aqui Rui Rio começou logo mal.

Nunca mais se livrou da acusação de ter como objetivo ser o número 2 de Costa.

Lembremo-nos, agora, do que tinha feito António Costa depois de perder as eleições de 2015.

Foi falar com o partido vencedor dessas eleições, o PSD?

Não: preferiu falar primeiro com o PCP e com o BE, deixando o PSD para o fim e desvalorizando totalmente esse contacto.

Rio e Costa tiveram, pois, iniciativas opostas.

Enquanto o primeiro procurou o seu rival, visando um eventual entendimento ao centro, o segundo falou com os partidos da sua área, no sentido de construir uma alternativa à esquerda.

Ora, onde está hoje António Costa?

Está confortavelmente instalado no Governo, com uma maioria absoluta.

E onde está Rui Rio?

Anunciou a saída da vida politica, depois de uma passagem pela liderança do PSD sem honra nem glória.

Perante isto, Luís Montenegro não pode ter grandes dúvidas.

O seu papel não pode ser procurar acordos com o Governo.

O seu papel tem de ser procurar acordos com os partidos da direita, o Chega, a IL e o CDS, no sentido de criar uma alternativa ao Governo socialista.

Como aconteceu nos Açores.

Não quer dizer que faça já um acordo.

Mas o PSD tem de deixar claro que o seu posicionamento é ‘à direita’ e que é o diálogo com essa área que privilegia.

Sempre foi, aliás, assim. Como é que Sá Carneiro chegou ao poder em 1979?

Promovendo a bipolarização entre esquerda e direita, assumindo a liderança desta – reunida na Aliança Democrática –, e conseguindo levá-la ao Governo.

Um partido querer colocar-se ao centro, como pretendeu Rio, é um erro.

O centro não é carne nem peixe.

Não permite um discurso nítido, recortado, com alma.

Conduz a um discurso mole.

Para os partidos, o caminho tem de ser o contrário: devem situar-se à esquerda ou à direita, sem complexos, e depois, nos períodos eleitorais, partindo de posições claras, caminharem em direção ao centro no sentido de conquistarem esse eleitorado mais despolitizado.

Mas repito: esse deve ser o ponto de chegada e não o ponto de partida.

Os partidos não devem caminhar do centro para os extremos mas dos extremos para o centro, depois de terem construído uma imagem bem definida.

Rui Rio nunca se assumiu como um homem de direita, nem sequer de centro-direita, mas como um social-democrata, ou seja, um político de centro-esquerda.

Mas no centro-esquerda está instalado o PS.

Foi isso que Rui Rio nunca percebeu ou não quis perceber, escolhendo a missão impossível de pescar nas mesmas águas.

E foi cruelmente penalizado por isso.

Montenegro não cometerá certamente o mesmo erro.

Não pode ter medo de abraçar certos temas que a esquerda tentou desacreditar para condicionar os adversários – e que a direita mais radical aproveitou para crescer.

Entre eles, está o controlo da imigração económica; está a recusa do politicamente correto (vd. as campanhas ‘antirracistas’ que só têm contribuído para aumentar o racismo) ou a defesa do nacionalismo.

A este respeito, a guerra na Ucrânia está a ser um excelente meio para rever certos conceitos e valores.

Vimos um povo levantar-se com valentia para defender a sua terra, as suas casas, as suas famílias – e sentimos que é um exemplo para todos.

A diabolização do nacionalismo, que se verificou no Ocidente – sobretudo na Europa – tendia a colocar os países à mercê dos inimigos externos.

O PSD pode aproveitar outras lições que a guerra da Ucrânia veio dar – como pôr algum travão na globalização e nas ‘deslocalizações’, que levou grande parte da indústria para fora do continente europeu, colocando-nos nas mãos de terceiros.

Ou a necessidade de não dependermos totalmente de outros em termos energéticos ou alimentares.

Ou a urgência de robustecermos as Forças Armadas – pois ficou claro que o tempo da conquista de território pelas armas não acabou e os países devem ter meios para se defender.

Estes e outros novos temas que a invasão russa da Ucrânia veio colocar podem – e devem – ser agarrados pelo PSD para construir uma alternativa atual, sedutora, ao poder socialista; uma alternativa onde muitas pessoas vejam uma resposta a algumas das suas atuais inquietações.

Há muitas questões novas com que Portugal e a Europa se deparam.

Montenegro, subido à liderança neste tempo em mudança, tem a oportunidade histórica de construir uma alternativa política diferente.