Esquerda transformada em direita radical

Cada vez mais, os governos de esquerda entendem que o Estado tem de mandar nas nossas vidas. Aconselho-os a fazerem-no em sua casa e a deixarem os outros fazerem o que muito bem entendem – desde que não interfiram com a liberdade dos outros.

O líder do Governo espanhol, e do Partido Socialista, chegou à conclusão que quer acabar com a profissão mais antiga do mundo: a prostituição. Num país inundado de casas de prostituição, onde os clientes vão com as mulheres/homens e demais géneros, é uma obra de se lhe tirar o chapéu. Mas esta medida insere-se em muitas outras que a esquerda europeia, cada vez mais a vestir o papel da direita reacionária, pretende levar avante. É espantoso como a esquerda se está a tornar no símbolo do proibicionismo, tirando as questões trans e afins. Mas, por acaso, Pedro Sánchez, o líder do Governo espanhol, perguntou às mulheres e demais profissionais do sexo se querem outra profissão? Será que Sánchez quer ainda tornar mais clandestina a profissão, deixando estes profissionais ainda mais nas mãos de máfias?

Não será preferível legalizar a prostituição e controlar tudo? Se as mulheres, a maioria, estão ou não de livre vontade? Se têm direitos, se têm proteção social? Estes cabotinos, os novos diáconos remédios, não vão descansar enquanto não transformarem o mundo à sua imagem, remetendo para o bas fond estas mulheres que podem e devem ser protegidas. Não imagino o que levará uma mulher, homem ou de outros géneros, é bom frisar, a seguirem essa profissão. É natural que sejam as dificuldades financeiras que levam muita gente a seguir esse caminho. Se é certo que é revoltante que alguém tenha de vender o corpo para sobreviver, também é revoltante que quem o queira fazer não possa.

Cada vez mais, os governos de esquerda entendem que o Estado tem de mandar nas nossas vidas. Aconselho-os a fazerem-no em sua casa e a deixarem os outros fazerem o que muito bem entendem – desde que não interfiram com a liberdade dos outros.

Hoje é a prostituição, amanhã é a velocidade nas autoestradas, depois há de ser os alimentos que ingerimos, o álcool que bebemos e por aí fora. Apetece dizer a esses proibicionistas que vão dar sangue e nos deixem em paz.

Por outro lado, há fenómenos novos que devem ser tratados devidamente e penso que o ISCTE deu um excelente exemplo. Se há estudantes que não se sentem homens ou mulheres – ou que se sentem as duas coisas –, das 30 casas de banho que têm, decidiram criar três para esses estudantes. Ninguém chateia ninguém e quem se sente homem vai à sua casa de banho e o mesmo com as mulheres. É óbvio que se o ISCTE tivesse dinheiro e espaço podia fazer cabinas individuais, umas ao lado das outras, e aí não precisava de pôr nenhum símbolo. É assim há alguns anos no Lux…

Não é preciso proibir o que quer que seja para se acomodar as novas tendências. Quem é contra a prostituição que não passe perto de um casa dessas.

Mas, como dizia e muito bem, a economistas Susana Peralta,  «a proibição é o pior dos mundos. O medo atira as trabalhadoras sexuais para a clandestinidade e inibe-as de denunciarem abusos, facilitando a vida a quem as quer explorar e agredir (…) As pessoas adultas que vendem sexo de forma consentida têm um direito elementar – o de decidirem por elas mesmas. Está na hora de o reconhecermos».

Acreditem que os proibicionistas vão querer dar cabo de um mundo que não é o seu. São os novos inquisidores e a sua Igreja só aceita aqueles que vestem as suas vestes. os outros têm todos de ser excomungados e só não acabam na fogueira porque é chato – passe o exagero. Mas podem passar uns tempos na prisão que isso só os obrigará a ler melhor a cartilha vigente dos novos mentores da sociedade.

vitor.rainho@sol.pt