Portugueses apostam 28 milhões por dia, 4 milhões em desporto

Gastos em apostas são mais do triplo face a 2019. Jogos de fortuna e azar dominam, mas receitas das operadoras de apostas desportivas, já descontando prémios, nunca foram tão altas e registaram a maior subida no primeiro trimestre.

Os portugueses nunca gastaram tanto online em jogo como no primeiro trimestre do ano, com a receita bruta das operadoras, já descontando os prémios, também a aumentar. Ao todo, as apostas online ascenderam nos primeiros três meses do ano a 2580,4 milhões de euros, 28,6 milhões de euros, 1,1 milhões de euros por hora. O valor apostado em máquinas de jogo de fortuna ou azar continua a dominar, com 2211 milhões de euros em apostas no primeiro trimestre, mais 604,2 milhões do que no primeiro trimestre de 2021 – 24 milhões por dia. No filão das apostas desportivas à cota, os portugueses gastaram 369,4 milhões de euros, 4,1 milhões de euros por dia. São menos 54,4 milhões de euros do que no primeiro trimestre de 2021, em que foi batido o recorde de apostas online neste segmento (423,8 milhões de euros).

Os dados surgem no último relatório semestral do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos, publicado este mês, com dados de janeiro, fevereiro e março. Revela que a receita das operadoras de apostas nunca foi tão elevada e que a que mais aumentou nos primeiros três meses do ano, mesmo tendo recuado o valor apostado, foi a das operadoras de sites de apostas desportivos, que subiu 18,2%, para os 77, 7 milhões de euros.

Apesar do montante apostado ser bastante menor, as receitas brutas das operadoras de apostas desportivas aproximam-se das receitas das operadoras de jogos de fortuna ou azar, que no primeiro trimestre ascenderam a 80,9 milhões de euros.

Os dados do Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRJI) detalham que no campo dos jogos de fortuna ou azar dominam as apostas em jogos de máquinas que simulam casinos, representando 78% do total. Seguem-se a roleta francesa (8,76%), o Blackjack e o póquer (4%).

Nas apostas desportivas, o futebol é a modalidade com mais apostas, representando 69,88% do total de apostas desportivas efetuadas.  As casas de apostas têm vindo de resto a tornar-se patrocinadoras dos clubes. O anúncio mais recente é o da Betano, que substitui a MEO como patrocinador principal nas camisolas do FC Porto.

As apostas nas modalidades de Ténis e Basquetebol representaram cerca de 25% do total das apostas desportivas (12,38% e 12,36% respetivamente). “Ao nível das competições desportivas, a Primeira Liga portuguesa representou 14,9% do volume de apostas efetuadas na modalidade de Futebol, seguida da Premier League inglesa, da La Liga espanhola e da Serie A italiana que representaram, respetivamente, 7,8%, 7,4% e 6,4%. No Ténis, o torneio Open da Austrália foi a competição onde se observou um maior volume de apostas (13,2%), seguido do Open de Miami e do Open de Indian Wells (10,2% e 9,2% respetivamente). A competição norte-americana NBA representou 62,6% do total das apostas na modalidade de Basquetebol”, indica o documento.

 

Três vezes mais do que antes da pandemia

Comparando com o pré-pandemia, é possível constatar que com oscilações pelo meio, os portugueses estão a gastar muito mais do que em 2019, e e o setor fatura também cada vez mais.

Consultando o relatório então divulgado pelo Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos, verifica-se que no primeiro trimestre de 2019 os portugueses despenderam 739,9 milhões de euros em apostas online – 608,6 milhões de euros e jogos de fortuna ou azar e 131,3 milhões em apostas desportivas. Nos primeiros três meses deste ano, com 2580,4 milhões de euros gastos, significa que foi injetado mais do triplo do dinheiro em apostas. No casos dos jogos de fortuna e azar, os jogadores nacionais estão a gastar 3,6 vezes mais do que no período homólogo de 2019. Em apostas desportivas, que tiveram um recorde no primeiro trimestre de 2021, estão a gastar atualmente 2,8 vezes mais.

Já no que diz respeito às receitas brutas do setor, que agora tem mais operadores do que tinha na altura, a diferença é da mesma ordem. No 1º trimestre de 2019, a receita bruta das entidades exploradoras de apostas desportivas à cota online atingira o valor de 24,8 milhões de euros, pelo que três anos depois a faturação deste segmento é 3,1 vezes superior. No caso dos jogos de fortuna ou azar, o valor da receita bruta obtida pelas entidades exploradoras de jogos de fortuna ou azar, no 1º trimestre de 2019, foi de 22,6 milhões de euros, sendo agora 3,5 vezes superior.

 

Mais a jogar e cada vez mais a pedir para não os deixar jogar 

Ainda recuando a 2019, no primeiro trimestre daquele ano fizeram pelo menos uma aposta online 318 mil jogadores em Portugal: 50,1% tinham feito apostas desportivas à cota, 33,4% apostas em jogos de fortuna ou azar e 16,5% ambos.

Neste primeiro trimestre, o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRJI) dá conta de 759,8 mil jogadores com prática de jogo em Portugal, 215,6 mil novos.

Há cerca de 118,9 mil pessoas com pedido de auto-exclusão em sites de apostas, um aumento de 8,7% face ao último semestre de 2021 e um número que também nunca foi tão elevado.

No primeiro trimestre de 2019, para uma comparação, havia  no total das entidades exploradoras 35,4 mil jogadores autoexcluídos da prática de jogos e apostas online. O pedido pode ser feito quer nos sites de jogos online, quer no site do próprio Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos, onde se pode também pedir a proibição de acesso a salas de jogos de casinos.

Com o aumento do jogo a preocupar especialistas e autoridades. No Reino Unido, algumas regras vão mudar em outubro, com desportistas e influencers populares entre um público menor de 18 anos proibidos de participar em anúncios.

Na Bélgica, o Governo apresentou em maio um projeto de lei que quer proibir a publicidade a qualquer tipo de jogos (online, casinos ou lotarias) até 2025, incluindo a interdição de slogans em camisolas, o que tem gerado discussão  e contrapropostas. “A indústria de jogos de azar está a lucrar cada vez mais no nosso país, tudo ‘graças a’ pessoas viciadas. A publicidade de jogos de azar é disparada de todos os lados todos os dias e incentiva esses vícios, inclusive entre os jovens”, disse o ministro da Justiça Vincent Van Quickenborne.