Endividamento da economia cresce para 782,5 mil milhões de euros

Endividamento da economia portuguesa voltou a aumentar em abril. Analista fala dos riscos e diz que “terá impacto económico francamente negativo”.

O endividamento do setor não financeiro – administrações públicas, empresas e particulares – cresceu 5,1 mil milhões de euros, para os 782,5 mil milhões de euros em abril, anunciou o Banco de Portugal (BdP) esta quarta-feira.

O banco central revela também que o endividamento do setor público (administrações públicas e empresas públicas) aumentou 4,4 mil milhões de euros, para 355 mil milhões de euros. E justifica: “Cresceu o endividamento perante o exterior (2,2 mil milhões de euros), o setor financeiro (1,6 mil milhões de euros) e as próprias administrações públicas (1,1 mil milhões de euros)”.

Este foi um crescimento que foi “parcialmente compensado pela diminuição do endividamento junto dos particulares” em 600 mil euros, avança ainda o banco liderado por Mário Centeno.

Sobre estes valores, Henrique Tomé, analista da XTB não tem dúvidas: “Era de esperar que o endividamento continuasse a aumentar e esta tendência crescente poderá prolongar-se ao longo dos próximos meses”, diz ao i.

Questionado sobre que consequências é que estes valores podem ter para a economia portuguesa, o analista explica que o elevado nível de endividamento “terá um impacto económico francamente negativo e que poderá agravar ainda mais as projeções sobre o PIB”.

E acrescenta: “Apesar das últimas projeções da Comissão Europeia apontarem para Portugal como a economia na Zona Euro que mais poderá crescer, a verdade é que a inflação no país tem subido significativamente nos últimos meses e deverá refletir-se no crescimento económico bem como no nível de endividamento, tanto no lado das famílias como das empresas”.

É claro que a inflação “continua a ser um motivo de preocupação, uma vez que reduz o poder de compra dos agentes económicos e que por sua vez faz com que estes tenham de recorrer às poupanças para fazer face ao aumento generalizado do custo de vida”.

Ainda assim, Henrique Tomé avança que “para aqueles que não possuem poupanças ou que essas poupanças são limitadas, então terão de recorrer a créditos que tornar-se-ão difíceis de gerir se o custo de vida continuar e se os salários se mantiverem inalterados”.

Mas há mais: “Além disso, no mercado de dívida (mercado obrigacionista), as yields continuam a disparar e estas movimentações prejudicam severamente o país dado que os níveis de endividamento estão em níveis recordes e poderão agravar-se ainda mais se começar a assistir a um abrandamento na atividade económica”.

Os dados do BdP mostram também que , no mês em análise, o endividamento das empresas privadas cresceu 4,4% face ao mesmo mês do ano passado, “o que correspondeu a uma desaceleração de 0,6 pontos percentuais (pp) em relação ao mês anterior”.

E o endividamento dos particulares aumentou 3,9% relativamente ao período homólogo, “valor similar ao verificado em março”.

Henrique Tomé diz que “era expectável e as perspetivas não são animadoras para os próximos tempos, uma vez que a inflação continua a subir em Portugal e cada vez mais as famílias portuguesas veem o seu poder de compra a ser reduzido, enquanto que as empresas também lutam para manter as margens de lucros à medida que os custos das matérias-primas e energia continuam a aumentar”.

Por isso, alerta que “os próximos tempos serão desafiantes, sobretudo para as famílias portuguesas com menos rendimentos uma vez que estas vão ser as mais afetadas, não só com a subida generalizada dos preços mas também com os aumentos das taxas de juro que estão previstos serem conduzidos pelo BCE, cujo os quais já estão a refletidos nas taxas euribor nas diversas maturidades”.