“Let’s look at the trailer”

Por falar em Cinema, sabes que o edifício onde era o Cinema Império fez, recentemente, 70 anos?

Querida Avó,   

Há quanto tempo não vais ao cinema? Antigamente não havia semana em que não fosse ao cinema!Coisa que, infelizmente, não tem acontecido nos últimos anos.

Por falar em Cinema, sabes que o edifício onde era o Cinema Império fez, recentemente, 70 anos?

De autoria do Cassiano Branco, o edifício engloba também o Café Império. Um café-restaurante onde nunca entrei (apesar de viver perto).

Onde também nunca cheguei a entrar foi no Cinema Império. O edifício foi comprado pela Igreja universal do Reino de Deus nos anos 90, imagina.

Por falar em igrejas que foram cinemas, aqui perto de casa, na Barão Sabrosa, em Lisboa, existe a Igreja São João Evangelista.

Neste espaço existiu o “Max Cine”, uma sala com capacidade para 700 pessoas. Foi inaugurado em 1929, sendo considerado como uma das melhores salas de cinema da altura.

São tantas as salas de cinema que existiram em Lisboa. Muitas delas foram transformadas e deram lugar a outros espaços completamente diferentes.

O “São Luiz Cine” passou a ser o “Teatro São Luiz”; o Éden passou a Hotel, O Condes (onde fui várias vezes ao cinema) é hoje o Hard Rock Café, o Cinema Europa, em Campo de Ourique, é agora um edifício de apartamentos e biblioteca. No mesmo bairro, o antigo Cinema Paris está ao abandono. O Cinema Londres (onde também fui muitas vezes) é agora uma grande loja do chinês.

Quem se recorda do cinema Olympia que, num passado longínquo, foi um local cultural por excelência? Mais tarde ficou conhecido por projetar filmes pornográficos.

Esteve para ser reconvertido num espaço teatral com sala de espetáculos e uma escola de artes dirigida por Filipe La Féria… mas afinal vai ser um Hotel ou apartamentos de luxo, tal como o vizinho, e emblemático, Cinema Odéon.

Por falar em cinema, agora lembrei-me do saudoso Lauro António e da sua célebre frase: «Let’s look at the trailer».

Vai ao cinema!

Bjs

 

Querido neto,

Sou de um tempo em que ainda não havia classificações etárias para os cinemas e os teatros. Todos podiam assistir a tudo.

O que às vezes também era uma chatice porque não estávamos a perceber nada e tínhamos de aguentar até ao fim. Uma vez, estava ao colo de uma das minhas tias a ver O Fado, um dramalhão que punha o pessoal todo a chorar na plateia. E de repente eu gritei: «Ó Bia, a tua saia pica-me nas pernas!». Toda a gente desatou a rir – e lá se foi o drama.

Depois cresci e adorava ir ao Chiado Terrasse, que apresentava sempre dois filmes em cada sessão. No tempo em que a Ericeira tinha cinema (lindíssimo, com cadeiras forradas de veludo vermelho, no lugar onde é hoje a Casa da Cultura) o esquema também era esse: dois filmes por sessão.

Lembro-me de ir à inauguração do Monumental. Grande cinema! O filme escolhido foi O Facho e a Flecha com o Errol Flynn. Quando, muitos ano depois, o cinema fechou, eu mandei um bilhete aos donos a dizer «Fui ao “Facho”, vou ao fecho». E eles responderam-me logo, mas que ideia, o cinema não ia fechar, precisava de umas remodelações e dentro de um ou dois meses voltava a abrir – e até me mandavam convites para a estreia.

Até hoje, claro.

Depois chegaram os centros comerciais, com uma data de cinemas lá dentro, de écran muito pequeno – e o cinema para mim perdeu o fascínio. Lembro-me de ter ido ver a um cinema de écran grande Os Pássaros, de Hitchcock, e tive tanto medo que passei a sessão quase toda de cabeça enfiada no ombro do meu marido. Parecia que todos os pássaros voavam do écran para nos atacarem. Mas isso também era a magia do cinema. Anos mais tarde lembro-me de o ver na televisão – e aquilo não metia medo nenhum: écran pequeno, podíamos parar quando quiséssemos…

E, desde essa altura, fiquei muito mais uma mulher de teatro do que cinema… Écrans pequenos não me dizem nada.

Já agora, qual foi o último filme que viste?