Os remendos na Saúde…

A obsessão ideológica de Marta Temido acabou com as parcerias público-privadas nos hospitais, quando estas tinham provado funcionar bem e, até, com poupanças significativas.

A obsessão ideológica de Marta Temido acabou com as parcerias público-privadas nos hospitais, quando estas tinham provado funcionar bem e, até, com poupanças significativas.

Dizer-se ou escrever-se que a saúde ‘está doente’ em Portugal tornou-se uma banalidade, da qual, provavelmente, raros discordam, a começar por aqueles que não dispõem de alternativas ao SNS, por falta de recursos… ou de um hospital privado por perto.

Durante o período mais agudo da pandemia, o Governo e a sua ministra da Saúde, alegavam que o SNS resistia bem, apesar da enorme pressão exercida pela covid-19 sobre o sistema público.

Claro que o mesmo Governo escondia o facto de milhares de consultas, exames e de cirurgias terem sido adiadas, com grande prejuízo para os doentes, por incapacidade dos hospitais públicos, mobilizados para acorrer à covid, e por resistência declarada da ministra em pedir apoio ao setor privado.

Pior: a obsessão ideológica de Marta Temido – secundada, aliás, por António Costa –, acabou com as parcerias público-privadas nos hospitais, quando estas tinham provado funcionar bem e, até, com poupanças significativas para a Fazenda, como reconheceu o Tribunal de Contas.

Em Braga, Vila Franca de Xira, Loures ou Cascais as parcerias foram caindo uma a uma, e a degradação dos serviços prestados não tardou, devolvidos esses hospitais à gestão pública.

Em paralelo, na sombra, o então ministro das Finanças, Mário Centeno, procedia às famigeradas ‘cativações’, uma artimanha desenhada com a cumplicidade do PCP e do Bloco de Esquerda, que contribuíram, com o seu silêncio comprometido, para arrasar o SNS.

O espetáculo indecoroso das filas de ambulâncias, em espera, à porta das urgências, ganhou vida própria, enquanto os indicadores de mortalidade subiram em flecha, projetando Portugal, a certa altura da pandemia, para o topo de óbitos por milhão de habitantes – uma triste sina que se repete, quando o Our World classifica hoje o país como o pior da União Europeia, tanto nesse indicador como em número de novos infetados.

Desta vez, sem margem de recuo, perante o colapso dos serviços de obstetrícia e de ginecologia, António Costa foi forçado a admitir que o SNS padece de «problemas estruturais», embora a ministra não passe da contingência para remendar o descalabro.

E, não por acaso, as estatísticas têm vindo a registar uma mortalidade superior ao normal, desde logo a materna, com uma taxa que não se verificava há quase 40 anos.

A degradação do SNS provocou uma corrida aos seguros de saúde durante a crise epidémica, enquanto a ADSE – que é um seguro exclusivo do funcionalismo –, se empenhou em garantir protocolos com o setor privado.

Com o aumento súbito da procura, são agora, também, os hospitais privados que começam a ter dificuldades na resposta, sobretudo em algumas especialidades mais procuradas pela população sénior, aumentando os prazos de espera para marcações.

O regresso das urgências saturadas – e não apenas nas especialidades de obstetrícia e ginecologia –, é outra demonstração do desnorte do SNS e da sua falência anunciada.

O Governo mostra-se atarantado, incapaz de qualquer ideia reformista na Saúde pública, afetada, desde logo, pela reversão demagógica do regime de trabalho, encurtado na ‘geringonça’ para as 35 horas, com agravamento da despesa.

Na impossibilidade prática de culpar os governos de Pedro Passos Coelho pelos desaires atuais, o primeiro-ministro procura ‘descalçar a bota’, lançando ‘cortinas de fumo’, com promessas de «aumento histórico» para pensionistas em 2023, enquanto ‘decreta’ a subida do salário médio dos portugueses em 20% até 2026, sem cuidar da produtividade, uma das mais baixas da União.

A propósito, o ex-ministro socialista, Teixeira dos Santos, avisou que se a produtividade em Portugal crescer, em média, 2% ao ano, o país atingirá «60% da média europeia no final da década e demorará quase meio século a igualá-la». E Costa ainda fala na semana de quatro dias…

A sensação que se tem é a de que o PS está tolhido pela maioria absoluta, e que o governo, esgotadas as habilidades, transmite um cansaço e uma insegurança anormais, acossado à esquerda e à direita, até por Cavaco Silva, com argumentos irrefutáveis.

Para ‘ajudar à festa’, o Presidente ainda não acertou o passo neste segundo mandato. Depois de uma ‘maratona’ escusada no 10 de Junho e de um discurso banal, Marcelo Rebelo de Sousa correu para a tribuna no desfile das Marchas de Lisboa, cultivando um populismo que lhe ficou mal, por muito que haja quem defenda o contrári.

Entretanto, despachou ‘de cruz’ o (requentado) Orçamento de Estado, devolvendo-o com alguns reparos, e saiu pressurosamente em auxílio de Marta Temido e de António Costa, ambos em aflições…

Desengane-se quem pensou que Marcelo poderia repetir a experiência das ‘Presidências Abertas’ de Mário Soares, quando este transformou Belém num polo crítico do governo de Cavaco Silva. É outra a sua têmpera…