por Jorge Bruno Ventura
Professor Universitário
Escola de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
O século em que vivemos está repleto de movimentos e variáveis com a capacidade de modificarem cenários e dinâmicas num curto espaço de tempo. A tudo é conferido um tempo que é associado ao rápido, ao instantâneo. Tudo se transforma em descartável. Há um fascínio que advém do que é novo e do que é rápido. O novo, numa associação ao termo inovação, está cada vez mais presente nas atividades promovidas pela organização social que cada vez estão mais inseridas num ambiente de recurso a tecnologias modernas.
Neste contexto tudo o que se associa ao vazio, ao nulo e ao silêncio é associado à derrota, a uma perda e a uma falta de qualquer coisa. A vida tem de ter preenchimento, precisa de algo a acontecer e que não pode ser a própria vida. As novas tecnologias confirmam a existência de ferramentas/utensílios que potenciam novas formas de relacionamento com a vida e com as sociedades. A capacidade dos telemóveis, tablets e computadores têm de nos notificar para tudo e para nada, não é suficiente. Este Homem habituou-se a que algo aconteça, e por isso está a sempre a carregar no botão. A solicitação para captar a atenção de cada um chega de vários lados e parece ser constante. Tudo e todos querem o nosso tempo e a nossa interação. Cada notificação que chega é um desafio.
Tomemos como exemplo a ambiguidade que se cria entre o ato de leitura e as constantes solicitações que chegam através dos aparelhos eletrónicos que nos rodeiam. Ler é um ato exigente e para o qual é necessário empregar esforço. Como conseguir a concentração numa determinada leitura, e algumas exigem uma grande concentração e uma repetição do que se está a ler, quando tantas solicitações fora dessa leitura nos chamam? É nesta ideia da leitura, como algo que dá trabalho, que está a chave do gosto ou não pela leitura. Há quem tenha prazer em trabalhar e, por isso, não se importa de colocar o esforço e o brio em determinada tarefa, mesmo quando há outras solicitações a puxarem e por vezes menos exigentes, menos trabalhosas e muito mais prazerosas.
O verdadeiro luxo, aquele apenas disponível para alguns, é ter a disponibilidade para carregar no botão do off, mesmo sabendo que quando carregamos no on simpaticamente nos avisam sobre tudo o que aconteceu e do que não aconteceu.