A ‘tampa doce’ a Marcelo no Brasil

Jair Bolsonaro e Marcelo Rebelo de Sousa, afinal, não se encontraram. O encontro com Lula foi o causador do ‘azedume’, que Marcelo afasta. 

por Joana Mourão Carvalho e José Miguel Pires

O Presidente brasileiro não recebeu Marcelo Rebelo de Sousa em Brasília, após o chefe de Estado português se ter encontrado com Lula da Silva previamente.

Jair Bolsonaro e Marcelo Rebelo de Sousa tinham encontro marcado para a passada segunda-feira, mas o chefe de Estado brasileiro decidiu cancelar a reunião com o seu homólogo português, desapontado por Marcelo se ter reunido com Lula da Silva, antigo Presidente do Brasil e candidato às eleições presidenciais de outubro deste ano, antes de viajar para Brasília.

Uma ‘tampa’ que deu muito que falar, mas que Marcelo decidiu desvalorizar. «Aquilo que podia ser um amargo de boca foi uma coisa muito doce, vista numa perspetiva de médio-longo prazo», argumentou o chefe de Estado, aos jornalistas, em São Paulo, argumentando que este episódio «permitiu que se falasse de Portugal aqui ainda mais». O tema, defendeu Marcelo, foi algo «tão coberto, tão coberto pela comunicação social brasileira» que gerou «uma grande simpatia em relação a Portugal».

Sobre o encontro com o antigo Presidente brasileiro e mais do que anunciado futuro candidato à Presidência do Brasil Lula da Silva, Marcelo lembrou que se trata de um «ex-Presidente», não de um «candidato», já que «as candidaturas só abrem em agosto, não há formalmente candidatos, não há sequer período eleitoral». E sublinhou que o ‘desconvite’ de Bolsonaro não foi assunto discutido: falaram da pandemia, da «situação internacional», da guerra na Ucrânia e «da situação da América Latina, em geral».

Por cá, a ‘nega’ gerou polémica, com muitos a colocar-se do lado de Marcelo Rebelo de Sousa na ‘quezília’ com Bolsonaro. No entanto, a visão do assunto no Brasil foi outra, havendo quem tenha concordado com o descontentamento de Bolsonaro ao saber que Marcelo se iria reunir também com Lula (ver págs. 10-13).

Entre os mergulhos de Marcelo na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, viveu-se uma imagem dupla: a de que a ‘tampa’ de Bolsonaro não era, afinal, assim tão importante, e a de que se avizinhava um incidente diplomático entre Portugal e o Brasil após este ‘soluço’ entre os dois chefes de Estado.

Normalidade

Marcelo Rebelo de Sousa tem nova viagem marcada para o Brasil em setembro, no âmbito das comemorações dos 200 anos da sua independência. Resta, então, a sombra sobre se, nesta ocasião, o chefe de Estado português irá, ou não, encontrar-se com Jair Bolsonaro.

Por lá, há quem garanta que sim: «A relação [entre chefes de Estado de Portugal e do Brasil] é normal. O Presidente Marcelo estará nos 200 anos da independência», alegou Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil. «O Presidente Marcelo esteve no Rio de Janeiro e muita gente o reconheceu. Estamos aqui desde domingo e o Presidente Bolsonaro é muito querido por muitos portugueses: não mudou absolutamente nada», declarou o ministro, em visita  ao Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC).

Apesar deste episódio entre os dois países irmãos, ainda assim, o povo brasileiro aguarda com grande ânsia a chegada do coração de D. Pedro que será cedido por Portugal durante um ano para as comemorações que vão decorrer no Brasil.