O que contribui para o bem-estar dos cidadãos?

Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos concluiu que a qualidade do ambiente e o equilíbrio entre trabalho e vida familiar são dos fatores mais valorizados pelos portugueses.

A noção de bem-estar não tem o mesmo significado para todas as pessoas, nem em todos os lugares. Mas o que contribui para o bem-estar dos cidadãos? Um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), “Territórios de Bem-Estar: Assimetrias nos municípios portugueses”, dá algumas pistas sobre em que medida a pertença a determinadas categorias sociais, ou os níveis de rendimentos e escolaridade, se relacionam com as condições de bem-estar e a qualidade de vida.

Segundo a análise da investigadora do ISCTE Rosário Mauritti, que coordenou o estudo, a qualidade do ambiente e o equilíbrio entre o trabalho e a vida familiar são dois dos traços mais valorizados pelos portugueses nas apreciações de bem-estar. Mas há outros fatores que podem contribuir para as condições de vida que caracterizam os diferentes tipos de territórios portugueses.

Procurando identificar as diferentes assimetrias que influenciam este indicador, esta investigação começa por agrupar os municípios que apresentam traços relativamente homogéneos nas características sociodemográficas, socioeducacionais e socioprofissionais, e que simultaneamente tendem a diferenciar-se de outros municípios, no que diz respeito a estas mesmas características. Assim foram definidos cinco tipos de territórios: territórios industriais em transição, territórios intermédios, territórios urbanos em rede, territórios inovadores e territórios de baixa densidade.

De acordo com o relatório divulgado pela FFMS, os territórios industriais em transição incluem municípios do noroeste do país, como concelhos das sub-regiões de Vale do Ave, Tâmega e Sousa, Cávado, quatro dos 17 municípios da Área Metropolita do Porto e, também,  parte dos municípios da sub-região de Aveiro/Beira Litoral. Neste grupo insere-se 17% da população.

“Aqui, as novas indústrias têm vindo a reforçar o emprego no terceiro setor e na economia digital, mas convivem ainda com indústrias de trabalho pouco qualificado e baixos salários”, expõe a investigação, indicando ainda que nestes territórios o custo crescente da habitação é uma “preocupação”.

Os territórios intermédios, onde vive 21% da população, abrangem concelhos desde o Alto Minho, às sub-regiões das Beiras e Serra da Estrela, Estremadura e Médio Tejo, Lezíria, Alto Alentejo e Alentejo central e Litoral e também alguns municípios do Algarve. Nestas regiões a população é mais envelhecida e os trabalhadores são, geralmente, menos qualificados, com um baixo nível de habilitações literárias, dedicando-se essencialmente aos setores da agricultura e da indústria, aponta o estudo.

Já os territórios urbanos em rede,  onde se incluem boa parte dos concelhos de Lisboa e do Porto, concentram 41% da população. Nestes locais “a dinâmica económica e social é intensa e o potencial de crescimento demográfico é grande”. Contudo, alertam os autores do estudo, “o emprego é mais precário e a conciliação do trabalho com a vida familiar é mais difícil que noutros territórios”.

Os territórios inovadores, onde reside 13% da populção, caraterizam-se por cidades densamente povoadas, com uma forte capacidade de atração do tecido empresarial, onde se aposta essencialmente na inovação científica e tecnológica, bem como em trabalhadores com elevadas qualificações. No entanto, argumentam os investigadores, “existe maior desequilíbrio na distribuição de rendimentos”. Inserem-se neste grupo as duas regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto, para além de Coimbra e os concelhos de Oeiras, Cascais e Alcochete.

Por último, os territórios de baixa densidade, habitados por apenas 8% da população portuguesa, são descritos como municípios “envelhecidos”, com cada vez menos população, “pouca criação de emprego e fraca capacidade económica”. Pertencem a este grupo os concelhos das regiões de Trás-os-Montes, Douro e Alto Minho, e das regiões da Beira.

A partir desta divisão territorial, o estudo traça outras conclusões ao nível das desigualdades sociais, ponderando fatores como o rendimento e privação material, classes sociais, escolaridade, género e idade.

No que se refere à qualidade do ambiente, um dos fatores mais valorizados pelos portugueses na perceção de bem-estar, os territórios inovadores destacam-se, em relação aos restantes, na deslocação em transporte coletivo, na gestão de resíduos, nos aterros e na qualidade da água, bem como no investimento em biodiversidade e paisagem.

Além deste indicador de bem-estar, os investigadores destacam que nos municípios com mais entreajuda as pessoas têm maiores índices de bem-estar, sendo que nos territórios rurais as redes de apoio social são fundamentais no alívio do isolamento e da pobreza.

A nível demográfico, o relatório revela ainda que mais de metade da população se concentra em 30 dos 278 municípios de Portugal continental, com o  apoio social a destacar-se como uma das áreas que gera mais emprego nos territórios de baixa densidade. Há também mais idosos do que crianças em 96% dos municípios do país e acresce ainda que, em mais de 60% dos municípios, um em cada cinco idosos vive sozinho.

Uma das razões para o envelhecimento de certas regiões passa pela dimensão de rendimentos já que, segundo a análise dos investigadores, os municípios que mais perderam população jovem são os que têm rendimentos mais baixos, apesar de os territórios com população mais jovem registarem níveis de emprego mais precário.

No que se refere ao plano das condições económicas, o estudo conclui igualmente que em 28% dos municípios portugueses mais de metade das famílias são pobres, sendo o rendimento médio das famílias portuguesas superior à média europeia em apenas seis municípios. Além disso, mais de metade da habitação social está concentrada em apenas sete municípios que se distinguem por maiores níveis de densidade populacional e uma maior presença de população sem grau de escolaridade.