As ameaças de Bolsonaro e Temer

A desinformação se deve a quase totalidade das mídias estar muito dedicada a combater o Presidente, a ponto da audiência dos programas jornalísticos nas TVs estar caindo. A discreta TV Band News vem se beneficiando com maior audiência, por se dedicar ao noticiário geral, como sempre foi.

Por Aristóteles Drummond

Não tem o menor fundamento as especulações que dominam o noticiário político no Brasil de que o Presidente Bolsonaro estaria preparando uma reação a um resultado desfavorável – muito provável – na eleição de novembro com apoio nos militares, em seguida a manifestações populares violentas nas principais cidades. Faz parte do embate eleitoral em curso este tipo de assunto. Caso a ordem pública seja ameaçada no estilo do que foi em Washington a invasão do Capitólio, como de forma velada Bolsonaro ameaça, os militares só iriam às ruas para restabelecer a ordem e garantir a posse dos eleitos. Bolsonaro não teria do que se beneficiar, pois seu mandato estaria a dois meses do fim. E, se depois de empossado, caso eleito, Lula da Silva acelerar um processo de integração com o bolivarianismo dominante nos vizinhos Venezuela, Peru, Colômbia, Chile e Nicarágua, não seria para colocar Bolsonaro no poder. Ou, como reza a tradição republicana, deixar o Congresso resolver a crise ou aprofundar a intervenção, possivelmente através de um oficial no serviço ativo e na mais alta patente nas Forças Armadas. E por algum tempo.

A desinformação se deve a quase totalidade das mídias estar muito dedicada a combater o Presidente, a ponto da audiência dos programas jornalísticos nas TVs estar caindo. A discreta TV Band News vem se beneficiando com maior audiência, por se dedicar ao noticiário geral, como sempre foi.

Nos últimos dias, voltou-se também a falar numa eventual candidatura de Michel Temer, a ser definida antes da próxima quinta-feira, como derradeira tentativa da terceira via. Ocorre que o articulador é elemento ligado a Temer de pouca credibilidade na classe política e na sociedade em geral, apesar de muito bem equipado intelectualmente. Amigos tóxicos como este – que chegou a ser preso – prejudicaram o bom governo de Temer e levaram ao encerramento de sua carreira.

VARIEDADES

• O mercado brasileiro de supermercados – e atacado – está hoje em mãos de franceses, grupos Carrefour e Cassino. Este é majoritário no Pão de Açúcar, fundado pelo português Valentim Santos Diniz, que chegou a ter presença em Portal, no Jumbo de Cascais, hoje Auchan. Antigos grupos, pioneiros, como Casa do Charque e Sendas, no Rio, das famílias Amaral e Sendas, foram incorporados a redes. Mas o terceiro colocado do setor, e fora do eixo Rio-SP e Minas, é o Grupo Pereira, de Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, entrando agora no Rio Grande do Sul. O fundador, Ignácio Pereira, é filho de portugueses e administra com filhos e sobrinhos, mantendo grande ligação com Portugal. O grupo conta com 20 mil colaboradores.

• Para se ter uma ideia do grau de agressividade do processo eleitoral no Brasil, basta ver o título do editorial do tradicional jornal O Estado de S. Paulo, sobre a reunião do presidente com os embaixadores creditados em Brasília: «Bolsonaro Desonra o Brasil». As embaixadas dos EUA e Reino Unido se manifestaram confirmando que acreditam no sistema eleitoral brasileiro, criticado por Bolsonaro. Aliás, os presidentes das duas casas do Congresso, senador Rodrigo Pacheco e deputado Arthur Lira, manifestaram confiança no sistema colocado sob dúvida pelo presidente da República. Até o ex-Presidente Temer se manifestou.

• O setor económico está preparando projeto que isenta do imposto sobre juros de debentures emitidas por empresas brasileiras e adquiridas por estrangeiros.

• A Embraer, animada com as encomendas que vem recebendo, começou a readmitir trabalhadores que haviam sido demitidos e a contratar novos. As ações da empresa também subiram. Até final de 2024, a empresa tem encomendas confirmadas.

• Levantamento das agências de publicidade mostra que o Flamengo, do Rio, continua sendo a maior torcida do Brasil. Em segundo, mas com a metade, o Corinthians, seguido por São Paulo e Palmeiras. E, em quinto, o Vasco da Gama, também do Rio.

• As incertezas quanto ao futuro e a boa cotação do real inspiram retirada de dinheiro do país. O mercado imobiliário de Miami voltou a investir na clientela brasileira. Estima-se em 30 mil os imóveis de brasileiros registrados na Flórida e aumenta a troca de domicilio fiscal por brasileiros com dupla nacionalidade.

Rio de Janeiro, março de 2022