Midjytilland-Benfica. Desde que nada haja de podre no Reino da Dinamarca…

Hoje, no Cepheus Park, pelas 18h45, em Randers, os encarnados limitam-se a não deixar pôr em risco a confortável vantagem de 4-1

Há momentos como este na vida dos treinadores e admito que sejam desafiantes. Que terá dito Roger Schmidt aos seus jogadores nestes dias que antecederam o jogo de hoje, em Randers, na Jutlândia, no Reino da Dinamarca? Não se abandalhem, não se desleixem, ignorem a vantagem confortável que trazemos de Lisboa e tudo estará bem? Talvez não chegue, convenhamos. O treinador alemão que o Benfica foi buscar à Holanda já teve tempo para perceber em que universo veio viver e de medir as expectativas que está a criar em seu redor. Milhares e milhares de adeptos, milhões por todo o mundo, estão cansados de perder, estão fartos de promessas ocas de treinadores cheios de farronca, estão enjoados de um estilo de jogo redondinho, ineficaz, que se deixa afogar por adversários mais ou menos espertos e é incapaz de impor a força de um clube que se habituou a viver paredes-meias com os grandes emblemas do mundo.

Foram três anos de degradação contínua. Foram três anos de uma mediocridade exasperante. Foram três anos de enxovalhos. Schmidt aterrou em Lisboa sem truques na manga, sem frases tonitruantes, deitou mãos ao trabalho, percebeu as fraquezas e as virtudes dos jogadores que tem à disposição, até ao momento tem conseguido disfarçar as primeiras e sobrelevar as segundas apesar de a equipa principal continuar a ser composta na sua quase totalidade por jogadores que ainda há meses se arrastavam penosamente em campo, sem alma, sem gana, sem vontade, amorfos, submissos, banais.

A Dinamarca traz-me sempre à memória o Hamlet e as palavras de Marcelo: “Há algo de podre no reino da Dinamarca!” Um alerta para Hamlet, o príncipe que viu o pai ser morto pelo seu irmão Cláudio que tomou o trono casando com  a rainha. E, por isso, o_Fantasma da Sombra, reflete, sombrio: “A Dinamarca é o leito da luxúria e do incesto abominável”. Fosse lá o que fosse, nesse tempo de tragédia que não parece ser o de agora, mas não pode ser o túmulo da esperança encarnada neste novo caminho das pedras em direção à fase de grupos da Liga dos Campeões. Ainda por cima depois da convincente goleada na Luz por 4-1.

 

Fácil

Não vale a pena estarmos com medo das palavras. Este é, para já, o jogo oficial mais fácil do novo Benfica de Schmidt. Só uma catástrofe, só algo de realmente muito afetado por uma inacreditável podridão, poderia levar o frágil Midjytilland a ganhar aos portugueses por quatro golos de diferença, agora que os golos no campo do adversário deixaram de contar. É verdade que, na primeira mão, tal como aqui escrevi, o Benfica cometeu dois pecadilhos incomodativos: falhou três ou quatro golos fáceis por falta de agressividade na hora da decisão; consentiu um golo inaceitável num lance abordado por Morato sem presença de espírito e de pura atrapalhação. Algo que, quando chegarem os adversários “a sério” pode vir a ter custos muito graves.

Aceitemos, pelo caminho, uma faceta importante para o treinador nesta sua complicada tarefa de fazer com que o Benfica abandone de vez a imagem de equipa incapaz de lutar por títulos que se lhe colou à pele nos anos recentes. Ninguém compreenderia que, com a vantagem que têm, com a tremenda superioridade que exibiram no jogo de Lisboa, que os encarnados se dedicassem, logo ao fim da tarde, a cumprir calendário como um oficial de diligências que vai, diligente como o nome indica, carimbar um papelucho. Para que o_Processo de Revolução em Curso que Schmidt lidera não sofra perturbações no seu desenvolvimento, cabe à equipa fazer na Dinamarca o mesmo que fez na Luz: ser melhor, muito melhor, do que o seu adversário, e demonstrar isso mesmo não apenas à custa de uma exibição categórica mas também à custa de um resultado condizente. Com a máquina em marcha não se admite que sejam as rodas dentadas da mesma máquina a meterem areia no seu funcionamento. Seria uma regressão incompreensível!