Sarina, a heroína das inglesas

Finalmente ‘chegou a casa’, mas pelas mãos das mulheres! A seleção nacional inglesa de futebol feminino conquistou o Campeonato da Europa da modalidade, sob os comandos da neerlandesa Sarina Wiegman, que trocou o balneário da sua terra natal pelo das inglesas e, agora, lucrou.

Corria o ano de 2021 quando Phil Neville, até então treinador da seleção nacional inglesa de futebol feminino, deixou o lugar máximo no banco das ‘lionesses’, passando Sarina Wiegman, uma experiente treinadora neerlandesa, a tomar a liderança.

A selecionadora assumiu assim uma missão que, apenas um ano depois, culminou na recente conquista do Campeonato da Europa, o primeiro título internacional da seleção nacional inglesa na modalidade. Cantaram-se urras e canções de vitória em nome da primeira treinadora não-britânica do emblema nacional feminino de Inglaterra.

Mas afinal, quem é esta treinadora, que se estreou aos comandos das inglesas com uma estrondosa goleada frente à Macedónia do Norte, em jogo a contar para a qualificação do Mundial de 2023, onde venceu por 8-0, e que rompeu o recorde nacional de vitória por mais golos, em novembro de 2021, ao bater a Letónia por 20-0?

Apesar de ter feito manchetes recentemente com a conquista do Europeu feminino aos comandos da seleção nacional inglesa, Wiegman é já uma conhecida e experiente treinadora da modalidade, que, aliás, já conhecia o sabor da vitória. Em 2017, aos comandos do emblema nacional dos Países Baixos, a sua terra natal, a treinadora levou a equipa à vitória no mesmo Campeonato da Europa, o que a torna, agora, na única treinadora – incluindo os treinadores homens na categoria – no mundo a conquistar o título no Campeonato da Europa aos comandos de duas seleções diferentes.

Mais de 15 anos de experiência

A carreira de Wiegman como treinadora – que se seguiu a uma carreira como jogadora que durou cerca de 16 anos e que contou com mais de cem internacionalizações – começou no emblema neerlandês Ter Leede, baseado na cidade de Sassenheim.

O anúncio da sua chegada data de janeiro de 2006 e, em 2007, já Wiegman celebrava o título de campeã nacional com o Ter Leede, bem como a Taça feminina dos Países Baixos.

Pouco durou, no entanto, a passagem de Sarina Wiegman pelo Ter Leede, pelo menos como treinadora, tendo representado a equipa como jogadora entre 1994 e 2003. A sua seguinte paragem foi o ADO Den Haag, onde liderou as hostes entre 2007 e 2014, vencendo o título de campeã na Eredivisie, em 2011-12. Naquela altura, Wiegman foi uma das principais caras na luta pela profissionalização do futebol feminino nos Países Baixos, rejeitando qualquer proposta semi-profissional e fazendo pressão para que a modalidade fosse levada a sério. «O Den Haag perguntou-me se eu queria treinar a equipa de forma semi-profissional. Eu disse que não. Se quisessem que eu ficasse com o trabalho, então tinha de ser a tempo inteiro. Era a única forma. Disse-lhes que se queriam que as coisas fossem bem feitas, eu tinha de estar focada. Se eu fosse mãe, professora e treinadora, o trabalho não ia funcionar. Eles concordaram», explicou na altura.

Foi na seleção nacional, no entanto, que Sarina Wiegman encontrou o verdadeiro estrelato. 2014 foi o ano em que entrou oficialmente nos quadros do emblema nacional neerlandês, como treinadora assistente. Seguiram-se dois anos de trocas entre treinadora assistente e treinadora interina, ao mesmo tempo que se tornava a terceira mulher a tirar a licença UEFA Pro de treinadora, até chegar ao lugar principal.

Valeu-lhe o despedimento de Arjan Van der Laan, em 2016, que levou a seleção nacional a nomear Wiegman como treinadora interina e, finalmente, em 2017, como selecionadora nacional.

Pouco demorou a mostrar a sua ‘garra’: apenas seis meses depois da sua nomeação, conquistava com a seleção nacional neerlandesa o título de campeãs europeias, ‘em casa’, vencendo todos os jogos do campeonato até à final, onde bateram a Dinamarca por 4-2, em Enschede, nos Países Baixos.

A conquista valeu-lhe, no mesmo ano, o prémio de Melhor Treinadora nos prémios The Best da FIFA e uma condecoração pela Ordem de Orange-Nassau, bem como todo o plantel que se sagrou campeão europeu.

Wiegman esteve novamente perto da glória em 2019, quando liderou a seleção nacional neerlandesa até à final do Campeonato do Mundo de futebol feminino, onde acabaria derrotada pelos Estados Unidos, por 2-0.

 

Caminho a um futuro promissor

«Os ingleses bebem bem!», exclamava  Sarina Wiegman na manhã depois da final do Europeu feminino, contando histórias de uma noite de celebração bem passada. «Foi um bocadinho a mais de álcool, acho eu. Mas está tudo bem, foi divertido. Quando tens estes feitos, é muito bom fazer uma festa», declarou, com o seu estilo de bom humor – sempre ‘banhado’ em seriedade e frontalidade – a que já acostumou os fãs ingleses, bem como as próprias jogadoras. «Ela é o ingrediente de que a Inglaterra estava à procura», disse a capitã Leah Williamson, dirigindo-se a uma enorme multidão em Trafalgar Square, depois de a equipa feminina ter subido ao palco. «Ela uniu-nos. Ela é uma pessoa especial e coloca-nos em primeiro lugar como seres humanos», agraciou a jogadora.

Aliás, esse tem sido um termo frequente nas declarações das jogadoras: união. Na mesma onda, Beth Mead considerou que, desde a chegada de Wiegman, o respeito mútuo dentro do balneário aumentou. «Confiamos agora que o que dizemos umas às outras é o melhor e que não sairá do grupo – ficou fácil falar umas com as outras», disse Mead antes da final.

Os feitos da treinadora neerlandesa valeram também elogios por parte da Football Association (FA), o órgão que tutela o futebol profissional em Inglaterra. «A maneira como ela fala é bastante interessante», disse o CEO da FA, Mark Bullingham. «Porque não se trata apenas de sucesso em campo, é sobre esse legado. Ela é apenas uma pessoa muito transparente com valores muito fortes», referiu. Curiosamente, ainda Wiegman estava em processos de deixar a seleção nacional neerlandesa e já o líder máximo do futebol inglês a elogiava: «Estamos confiantes de que ela pode levar a Inglaterra ao próximo nível, dando-nos a melhor oportunidade possível de alcançar a nossa ambição de vencer um grande torneio» disse na altura.