Donald Trump pode ter confessado estar na posse de documentos confidenciais

Ao argumentar que os documentos têm “privilégios confidenciais”, Trump pode ter reconhecido que estava na posse de documentos restritos.

Depois do ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar que alguns dos documentos recolhidos da sua mansão pelo FBI poderiam estar sujeitos a privilégio executivo, meios de comunicação internacionais argumentam que este pode ter admitido a apreensão ilegal de materiais no seu resort na Flórida.

Trump está a ser investigado por violação da lei de espionagem, obstrução de justiça e destruição de documentos, que, em caso de condenação, pode resultar em multas, pena de prisão ou interdição de ocupação de cargos políticos.

O FBI apreendeu 11 conjuntos de documentos classificados de Mar-a-Lago, alguns marcados não apenas como ultrassecretos, mas também como “informações compartimentadas confidenciais”, uma categoria especial destinada a proteger os segredos mais importantes do país que, se revelado publicamente pode causar danos “excecionalmente graves” aos interesses dos EUA, escrevem meios de comunicação norte-americano.

A moção apresentada na segunda-feira pelos advogados do ex-presidente e que pediam para um tribunal nomear um “procurador especial” para separar e determinar que materiais é que o departamento de justiça poderia analisar devido a questões de privilégio, indica que esses documentos são documentos oficiais que ele não está autorizado a manter e que deveriam ter sido entregues aos Arquivos Nacionais no final do governo.

Segundo esta lógica, a moção parece admitir que Trump violou um dos estatutos criminais listados no mandato usado pelo FBI para revistar o resort Mar-a-Lago do ex-Presidente, 18 USC 2071, referente à remoção ilegal de documentos do governo.

“Se Trump reconhece que está na posse de documentos que teriam qualquer alegação de privilégio executivo, esses são, por definição, registos presidenciais e pertencem aos Arquivos Nacionais”, disse Asha Rangappa, ex-agente do FBI e ex-reitora associada da Yale Law School, citado pelo Guardian. “Portanto, não é claro se o privilégio executivo é relevante para o crime específico no qual o ex-Presidente está a ser investigado. No entanto, neste processo, ele basicamente admite que está na posse destes documentos, que é o que o governo está tentando estabelecer”, disse Rangappa.

Estas afirmações do meio de comunicação inglês surgem no mesmo dia que o Arquivo Nacional revelou que recuperou mais de 100 documentos marcados como classificados, de um lote inicial de 15 caixas retiradas em janeiro da residência na Florida do ex-Presidente.

Os números divulgados demonstram o grande volume de documentos classificados do governo recuperados no início do ano na residência de Mar-a-Lago, ainda antes dos agentes da polícia federal norte-americana (FBI) terem realizado buscas na casa em 08 de agosto para recuperarem mais 11 conjuntos de registos confidenciais.

A quantidade de documentos recuperados foram incluídos numa carta de 10 de maio, na qual a arquivista interina, Debra Steidel Wall, comunicou a um advogado de Trump, Evan Corcoran, que o governo Biden não iria respeitar as reivindicações de privilégio executivo pedidas pelo ex-presidente sobre estes documentos.