A esmola não é grande e todos desconfiam

Basta olhar para a vizinha Espanha ou para a Alemanha, ou até mesmo para o Reino Unido e para o primeiro discurso da recém-empossada nova primeira-ministra britânica, para se perceber a diferença entre um programa de apoio e combate à inflação, independentemente da maior ou menor concordância com as medidas, e  uma… esmola.

Se não está tudo errado, pelo menos é de desconfiar. Porque bem lá diz o povo, e não sem razão, que quando a esmola é grande o pobre desconfia.

Pior ainda, porém, quando quem a dá é um pedinte.

Ou, e logo veremos se não será mesmo o caso, quando quem a dá com uma mão a há de vir a tirar mais tarde com a outra.

O prometido pacote bilionário de combate à inflação do Governo de António Costa, feitas as contas, não é, como em ocasiões passadas, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma.

Mas também não é, de maneira alguma, um substancial e ambicioso programa de ajuda às famílias e às empresas para responder à crise que atravessamos e, sobretudo, à que há de vir e que está prometida para o inverno, quando a crise energética na Europa se agudizar e os efeitos doerem a sério.

Quanto às empresas, para já e até ver, temos mesmo a tal mão cheia de nada e a outra de coisa nenhuma.

Já quanto às famílias, sendo louvável o propósito confesso de apoio direto, sabe a demasiado pouco.

Pior, cheira a esmola. Feitas as contas e por junto, 125 euros para os mais carenciados e assim para o remediado, mais 50 euros por cada filho.

Enfim, uma esmola.

A antecipação de meia pensão para os pensionistas nem isso é, porque se não for devidamente corrigida a fórmula de cálculo, como bem veio reclamar a Oposição, é um embuste – uma vez que o que o Governo antecipa, na verdade, há de descontar e de refletir-se na base sobre a qual o  aumento percentual incidirá em todos os anos seguintes.

Por isso, verdadeiramente, não pode falar-se em bodo aos pobres.

O plano do Governo de combate à inflação, se bem que propagandisticamente proclamado como de apoio nunca visto às famílias – e daí o enfoque n’ «As Famílias primeiro» –,  é demasiado ‘poucochinho’ (para usar expressão tão cara ao líder socialista e primeiro-ministro) e de curto prazo.

Basta olhar para a vizinha Espanha ou para a Alemanha, ou até mesmo para o Reino Unido e para o primeiro discurso da recém-empossada nova primeira-ministra britânica, para se perceber a diferença entre um programa de apoio e combate à inflação, independentemente da maior ou menor concordância com as medidas, e  uma… esmola.

Portugal anda há demasiado tempo demão estendida na Europa a pedir subsídios e fundos para tudo e mais alguma coisa, que não sabe aplicar, executar, distribuir e investir.

E não obstante tantos fundos de coesão e de convergência, programas 20-20 e 20-30, PRR, ‘bazucas’ e quejandos, o país não sai da cepa torta nem se vislumbra no horizonte que deixemos de estar cada vez mais na cauda da Europa, sucessivamente ultrapassados por Estados-membros histórica e economicamente muito mais atrasados até há muito poucos anos.

António Costa, quando conquistou a maioria absoluta nas eleições de janeiro passado, fixou como objetivo primeiro desta legislatura o crescimento económico e a convergência com a Europa. E bem!

Passados os primeiros meses da nova maioria, não há um único sinal de ter mudado nada no rumo do Executivo que deixou de ter as grilhetas dos seus parceiros de extrema-esquerda na famosa ‘geringonça’.

A esperança, obviamente, esmorece.

E os casos sucessivos que vêm abalando a confiança neste Governo, que tinha todas as condições para garantir a estabilidade indispensável ao investimento e ao crescimento, também em nada contribuem para inverter a situação.

O arrastamento da substituição da ministra da Saúde demissionária – com recurso a um quadro do aparelho socialista (mais um autarca derrotado numa das grandes cidades) – é apenas mais um mau exemplo.

Se António Costa apostava no anúncio deste plano para dar um novo fôlego a este Governo, é bom que dê corda aos sapatos. Porque não resultou. Parece que esta maioria absoluta tem enguiço.

 

P.S.: Depois de Mikhail Gorbachov, Isabel II. A morte da Rainha, no ano do Jubileu de Platina, é mais um marco histórico que se dobra, particularmente em relação ao século XX. Até na escolha da Escócia (o Palácio Balmoral) para o leito da sua morte, Isabel II pôs os interesses do Reino Unido acima de todos os outros: pessoais, familiares, quaisquer que fossem. Uma estadista de corpo e alma. Muito, mas mesmo muito difícil de substituir. Os monárquicos que o digam.