De Gaulle começa as suas Memórias de Guerra com uma frase singela de um grande político: «Toute ma vie, je me suis fait une certaine idée de la France».
Há sete meses, no início de fevereiro, na edição imediatamente seguinte à conquista da maioria absoluta pelo PS, o Nascer do SOL enunciava o objetivo definido pelo primeiro-ministro e líder socialista para a legislatura pós-pandemia: ‘tirar Portugal da cauda da Europa’ e pôr a Economia a ‘crescer, crescer, crescer’.
Afinal, havia esperança.
Mas a Rússia invadiu a Ucrânia três semanas depois.
E o novo Governo de António Costa só tomou posse quase dois meses volvidos.
Daí para cá tem sido uma sucessão de trapalhadas e tiros nos pés que nos deixam a todos, na mais benévola das leituras, incrédulos.
José Miguel Júdice fala de «loucura mansa», Marques Mendes faz a listagem das polémicas e sublinha que «não é normal» uma ministra demitir-se ao fim de tão pouco tempo de ter sido reconduzida no cargo, António Costa nomeia um secretário de Estado que desqualifica a ministra com a responsabilidade da coordenação política do Governo, Marcelo Rebelo de Sousa assobia para o lado. No entretanto, mais um episódio: o ministro das Finanças desautoriza publicamente o ministro da Economia.
E o país empobrece.
Está cada vez mais pobre.
Uma consulta aos dados estatísticos do Eurostat ou do INE confronta-nos com a realidade. Portugal está cada vez pior em todos os índices de pobreza. Por exemplo, já só a Roménia está pior do que nós em matéria de risco de exclusão dos trabalhadores independentes (segundo o Eurostat, um em cada três trabalhadores independentes em Portugal está em risco de pobreza).
É aterrador.
Os jovens com talento e qualificação abalam além fronteiras. E muitos dos que zurziram forte e feio em Passos Coelho quando, primeiro-ministro, desafiou os jovens sem emprego em Portugal a aproveitarem as oportunidades que se lhes abriam nomeadamente nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (ontem como hoje tão precisados de cooperação) são agora os primeiros a apelar à emigração da juventude. Se tivessem vergonha na cara…
Perante esta realidade e a ameaça de uma crise social como já não há memória nos próximos meses – ai o que nos trará 2023!!! –, o Governo responde com um conjunto de medidas de combate à inflação e de ajuda às famílias e às empresas que se assemelha muito mais a cuidados paliativos prestados a um doente terminal e para o qual uns quantos insensatos e pobres de espírito reclamam o direito à eutanásia, do que a um efetivo plano de combate à inflação e de incentivo à produtividade e à rentabilidade.
Desde a maioria absoluta conquistada a 30 de janeiro, nada mudou em Portugal para melhor.
Nada!
António Costa continua agarrado às contas certas e à austeridade que tanto criticou a Passos Coelho e a que se limitou a dar outra máscara com a conivência dos partidos da extrema esquerda e das organizações sindicais acomodadas nos longos corredores do poder socialista.
Não há diferença alguma. Apenas as condições externas que permitiram uma mudança de políticas e que foram totalmente desaproveitadas pela falta de um rumo para a recuperação da economia nacional e do seu setor produtivo.
A pandemia só ajudou a aumentar a tentação do assistencialismo e do Estado providência condenado à falência.
O PRR, afinal, já de pouco ou nada nos servirá. O choque fiscal vai continuando sempre adiado.
Os portugueses estão condenados a andar de mão estendida, a servir quem nos visita (já pouco nos resta além do turismo) e sem um projeto de futuro.
Porque este Governo de maioria absoluta não tem rumo, não tem programa, não tem proposta.
Não é falta de coordenação, nem falha de comunicação, nem o que para aí muitos gostam de andar a dizer.
O Governo, os ministros, o PS, andam à deriva, porque António Costa não tem uma ideia para Portugal.