À Esquerda e À Direita

Religião e fanatismo

O Papa Francisco deu um murro na mesa e disse que queria mais transparência na vida eclesiástica e tolerância zero para os abusadores sexuais. Pediu ainda que se olhe para a periferia, e aqui, como é óbvio, fala naqueles que são excluídos de uma vida cristã plena: os casados recasados e a comunidade homossexual.

Religião e fanatismo

Depois dos escândalos de pedofilia e de assédio sexual na Igreja Católica, seria expectável que muito mudasse – se assim não fosse corria, e corre, o risco de diminuir muito a sua influência. Uns acham que é um disparate, pois em todos os setores da sociedade há pedófilos e abusadores sexuais e não é por isso que se muda a sua génese, da profissão, leia-se.

Outros entendem que esta é a melhor ocasião para fazer as transformações necessárias, aproximando a Igreja à vida dos mortais. Fará algum sentido, por exemplo, nos dias de hoje continuar-se a ver o prazer sexual como um pecado, não aceitando a Igreja a contraceção? Fará algum sentido os sacerdotes não poderem casar-se? E qual a razão para se fazer a distinção entre o papel da mulher e do homem, excluindo as senhoras de serem sacerdotes? 

O Papa Francisco deu um murro na mesa e disse que queria mais transparência na vida eclesiástica e tolerância zero para os abusadores sexuais. Pediu ainda que se olhe para a periferia, e aqui, como é óbvio, fala naqueles que são excluídos de uma vida cristã plena: os casados recasados e a comunidade homossexual. Não conseguiu ainda impor o casamento para os sacerdotes que assim o desejem, mas há de lá chegar. Francisco sabe que se a Igreja continuar fechada sobre si mesma, que se as missas forem um momento de medo e não de alegria, o futuro será pouco risonho. Mas se a Igreja for um local de inclusão, que luta pelos mais desfavorecidos e que é uma voz ativa no ambiente e na justiça social, então terá um belo caminho para fazer.

Mas, como é óbvio, percebo o ponto de vista daqueles que entendem que os valores da Igreja se devem manter inalteráveis e que os pecadores não podem ser vistos como os cristãos ‘puros’. Digamos que entendem que, no ‘clube’, só pode ser sócio quem cumpre com os requisitos necessários. É um ponto de vista que tem muitos seguidores e muitos anos de escola. A Jornada Mundial da Juventude será bem o espelho desta ‘guerra’ entre as várias correntes na Igreja Católica portuguesa.

Christiana Amanpour, da CNN, merece o meu aplauso pela coragem que teve ao recusar entrevistar o Presidente do Irão com um lenço na cabeça. Ambos estavam em Nova Iorque e o fanático iraniano deve aceitar as regras do mundo ocidental. Já no Irão, a história é bem diferente. A jornalista, penso eu, não se atreveria a ir entrevistá-lo sem o véu, já que nem conseguiria entrar no Palácio Presidencial, pois estava a violar as leis do país. Amanpour foi muito mais corajosa que os responsáveis italianos que há uns anos taparam umas estátuas de um museu de Roma, onde havia nus explícitos, para não incomodar o Presidente  Hassan Rouhani. Quando se cede aos fanáticos não é bom sinal e já se percebeu que os Presidentes iranianos não gostam de nus.

A atitude da jornalista é ainda mais louvável pois o Irão debate-se com graves problemas de segurança, já que há manifestações todos os dias, em várias cidades do país, contra o fanatismo ideológico que levou à morte de uma cidadã que teve a ousadia de estar em público com um pouco do cabelo à vista. Levada para a esquadra pela polícia dos costumes, acabaria por morrer. E é contra essa barbaridade que a população se sublevou, havendo já cerca de 30 mortes a registar.

 

P. S. 1. Esta semana ficámos a saber que Rui Moreira, no Facebook, veste a pele de vice-presidente do Conselho Superior do FC Porto, podendo dizer as maiores alarvidades, e fora da rede social é o presidente da Câmara Municipal do Porto, em que respeita os jornalistas. Uma dupla personalidade curiosa.

P. S. 2. Se havia uma réstia de esperança de que Vladimir Putin teria um pingo de juízo, esta semana dissiparam-se as dúvidas. O homem é mesmo um perigo público e ameaça deixar o mundo ainda mais perigoso. Esperemos que a guerra não descambe para outros territórios.

vitor.rainho@sol.pt

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