Os comboios iam chegando à estação de Brenner engalanada por milhares e milhares de flores e bandeirinhas de Itália à mistura com os sinistros estandartes da cruz gamada. Primeiro, logo pelas oito da manhã, chegou aquele que transportava o Conde de Ciano, um descerebrado que Il Duce colocara como seu representante dos Negócios Estrangeiros e não por acaso era seu genro. No final da guerra, seria um dos primeiros a traí-lo, coisa que não lhe evitou uma morte violenta e raivosa perpetrada pela populaça. A seu lado viajava o embaixador do Reich, Von Mackensen, uma figura de opereta apertado numa fatiota que lhe ficava pequena demais. Duas horas mais tarde, Benito Mussolini parecia brilhar de cima a baixo de vaidade e suor. A barriga proeminente saiu bastante antes da sua cabeça da carruagem em que viajava na companhia do embaixador alemão em Roma que se fizera à ferrovia a seu lado. Finalmente, pelas 11 horas da manhã, fazendo-se esperar como acontece geralmente com gente convencida da sua importância e eivada de má educação, foi a vez de Adolf Hitler. Il Duce esperava-o pacientemente na plataforma. Os dois trastes ungiram-se num abraço fraterno e, em seguida, perfilaram-se para se saudarem com o erguer de braço da saudação fascista a que Mussolini insistia em chamar saudação romana. Hitler vinha acompanhado da que, como gosta de dizer o povo de Lisboa, se poderia considerar a fina flor do entulho: Von Ribbentrop, seu ministro dos Negócios Estrangeiros, o general Keittel, chefe-supremo das forças armadas do Reich, dr. Dietrich, chefe de imprensa do gabinete do Führer, Borman, o reichleiten, seu secretário particular, e pelo embaixador italiano em Berlim. Os lobos voltavam a unir as suas alcateias, depois de meia-dúzia de encontros anteriores. A verdade é que Hitler tinha um fascínio pela figura e popularidade de Mussolini e Benito comportava-se sempre a seu lado com a farronca que lhe estava no sangue mas não o impedia de se mostrar sempre solícito perante aquele que considerava como um grande amigo.
Conversações De seguida entraram na sempre ligeiramente ridícula revista da guarda de honra formada por “camisas negras” e “caçadores alpinos” para, finalmente, na carruagem preparada por Hitler com essa finalidade terem uma reunião a quatro, os dois comandantes dos países aliados juntamente com Ciano e Ribbentrop. Gastaram saliva até a barriga dar horas. E às 13h50, pontualmente, bateram-se com uma série de iguarias preparadas especialmente pelo cozinheiro da chancelaria do Reich. Sobre os céus de Brenner, ouvia-se o ruído dos aviões de patrulha, muitas vezes ensurdecedores. Adolf fazia questão de mostrar sempre que os seus Messerschmidt estavam prontos para entrar em combate.
Os serviços de propaganda de Berlim trataram rapidamente de enunciar que esta se tratava da sexta reunião entre Hitler e Mussolini. Calaram-se por completo sobre os assuntos debatidos entre os mais altos cargos de cada nação, mas quiseram anunciar ao mundo a estreiteza dos laços que uniam das duas nações.
E, apesar da opinião pública ter sempre ficado às cegas sobre de que tipo de matérias Adolf e Benito vinham a discutir ao longo dos últimos três anos, entre tantos encontros e salamaleques feitos por um ao outro e vice-versa, acentuavam-se as provas de confiança que se reforçavam a cada um desses encontros tão festejados exteriormente como calados internamente.
Pelo caminho, tinha chegado à Europa o subsecretário de Estado norte-americano Summer Wells. Os americanos adiaram o mais possível a entrada na II Grande Guerra, mas seguiram o conflito à distância com preocupação crescente e com cada vez mais pressão do governo britânico para que apressassem a sua intervenção.
Wells viu caírem sobre si as críticas dos seus adversários políticos porque, a despeito de ter passado muito tempo em Itália, parlamentando com alguns dos homens mais próximos de Mussolini, não conseguiu que Il Duce não se assumisse como aliado de Hitler, enviando as suas tropas para os cenários de combate que mais lhe interessavam e onde, por sinal, foi sujeito a uma série de humilhações que faziam que Adolf deitasse fumo pelas orelhas.
Praticamente ao mesmo tempo, o prestígio do general Petáin e a admiração que muitos franceses ainda conservavam por ele graças aos seus feitos durante a I Grande Guerra, permitia o aparecimento de uma das maiores aberrações políticas da História da Europa, o estabelecimento de um governo em Vichy que não era mais do que uma marioneta dos nazis. Houve quem jamais o perdoasse pela forma como dobrou a espinha em frente de Adolf.